Quando ouvi ontem Cavaco Silva em Manteigas, saltou uma sensação de déjà vu, não porque soubesse que ele tinha lá passado a lua-de-mel (que raio de ideia!...), mas porque a minha memória recuou imediatamente 50 anos (tantos, será possível?!) e repescou um outro discurso de um igualmente inefável presidente da República, discurso esse que ficou célebre por uma daquelas pérolas tão características do raciocínio de Américo Tomás: «É uma terra bem interessante, porque estando numa cova está a mais de 700 metros de altitude.»
E se Cavaco não falou de Viriato, nem Tomás se tinha referido a «nichos de mercado», não reconheço, nas palavras de ambos, a diferença de mentalidades, que meio século de vida de um país faria esperar. Não pretendo com isto dizer que Portugal não mudou ou que a democracia que temos se assemelha ao regime político deposto em 25 de Abril de 1974, mas apenas que continuamos pequenos, «poucochinhos» – ou teríamos sido capazes de impedir a eleição de um chefe de Estado como aquele que agora temos.
(Diário de Lisboa, 31 de Maio de 1964)
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