O entusiasmo febril de uns tantos apoiantes de António Costa parece começar a esfriar. Nas redes sociais, há muitos silêncios e alguns desabafos.
Se o bate-papo com Rui Rio e a ideia de um acordo de regime a 10 anos já provocou alguns calafrios, a «agenda para a década», que o pré-candidato socialista a primeiro-ministro apresentou ontem e que será discutida no próximo fim-de-semana, soube a pouco aos mesmos e a muitos outros: nos nove painéis que terão lugar em Aveiro, não estão previstas discussões sobre o défice, a dívida e a consolidação orçamental.
Percebe-se a táctica nos dois casos (sobretudo no segundo: «no adiar é que está o ganho»), mas há sempre que prever um efeito boomerang porque há quem não aprecie este tipo de atitudes. E até possíveis ex-futuros compagnons de route do PS mostram já algum nervosismo (leia-se os dois últimos parágrafos desta notícia).
No jornal «i» de hoje, Ana Sá Lopes publica um texto demolidor «PS: campanha para o troféu sexy platina».
«Imagine-se a carga de pancadaria que levaria António José Seguro se resolvesse convocar uma conferência de imprensa sobre uma "convenção" e agenda de 10 anos para o país e se se recusasse a dizer o que pensa sobre a consolidação orçamental, o que pensa sobre a reestruturação da dívida e de como sair do buraco em que estamos, alegando que queria ir às "origens da falta de competitividade da economia portuguesa". O Largo do Carmo e a cervejaria da Trindade haveriam de cair estrondosamente, o blogue inventado pelos assessores de Sócrates no governo faria algumas graçolas de gosto duvidoso, o Twitter e o Facebook ficariam atordoados de tantos apoiantes de António Costa a criticarem a "ausência", "a falta de opiniões", a "hesitação", a "falta de firmeza", a "falta de projecto para o país" e para o seu problema mais imediato. (...)
Para quem foi tão festejado por alguns elementos da esquerda do PS, por militantes do Livre e ainda alguns do futuro partido de Ana Drago que quer "governar" com o PS de Costa, o candidato a primeiro-ministro não poderia ter tido uma semana mais extraordinária. A estreita relação com Rui Rio foi suficientemente exposta, com os dois eventuais protagonistas de um futuro bloco central a concordarem num pacto de regime a 10 anos. E o discurso do "depois vemos como tratamos das finanças" faz temer o pior no que respeita a uma alternativa à austeridade em vigor. »
Na mouche.
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