«Num daqueles momentos que definem um político (que não um estadista, algo que nunca conseguiu ser), Durão Barroso anunciou uma boda aos pobres portugueses.
Divertido, como se fosse o pai severo a distribuir uma esmola, aconselhou de forma severa: "Vinte e seis mil milhões de euros é uma pipa de massa, este dinheiro deve ser bem aplicado. Que se calem aqueles que dizem que a União Europeia não é solidária com Portugal e com os países da coesão, trata-se agora de aplicar bem esses fundos". Depois desta exibição de prepotência, como se ele não estivesse estado dos dois lados da barricada (favorecendo o despesismo em Lisboa e impondo, em Bruxelas, a austeridade cega), o quase ex-presidente da Comissão Europeia mostrou a fibra de que é feita a elite política nacional e europeia. (...) As lamentáveis declarações de Durão Barroso simbolizam o colapso do regime português: a sua falência não só financeira (como evidencia o buraco negro do grupo GES, sequência em larga escala do que foi o BPN), mas também política e moral.
Portugal sempre foi um freguês da dívida. E da escassez de recursos e incapacidade de os acumular e utilizar para criar riqueza. (...) A forma como sempre se encarou a dívida e se resolveu (tal como agora) mostra a fibra dos sucessivos políticos portugueses e a ausência de sentido de dever público que os move. São os impostos (sobretudo sobre o trabalho) que pagam todos os desvarios e benesses. (...)
Olha-se para o descalabro do regime e para a falta de alguém que consiga indicar uma via diferente desta moralmente corrupta, politicamente inepta e financeiramente falida, e fica-se com um amargo de boca. Até quando ficaremos reféns do serviço da dívida e desta geração de líderes indigentes? »
Fernando Sobral, no Negócios de hoje.
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