No Diário de Notícias de hoje, o jornalista Pedro Tadeu reflecte sobre os termos da frase publicitária do Novo Banco, «nascer com o empenho renovado de seis mil colaboradores é um bom começo»... Espantado por ler «colaboradores» onde esperaria «trabalhadores», desconfiado de que a semântica é tramada, Tadeu tenta descobrir razões para esta substituição. Será, talvez, porque, como escreve, «um colaborador não tem horário certo, não tem sindicato, não reclama, obedece», enquanto que um trabalhador pensa em direitos, quer saber como os administradores governam a empresa, questiona as desigualdades salariais, é, enfim, «um perturbador».
Bem vindo ao glorioso mundo da novilíngua, camarada. Foi já há muitos anos que na empresa onde trabalhava me explicaram que os técnicos que transformavam em material visível as ideias que lhes transmitia deviam ver em mim não uma camarada de trabalho, mas uma cliente. Há já largos meses sobressaltei-me ao ouvir uma terapeuta falar de clientes, referindo-se àqueles que acompanhava. Doente ou paciente são palavras menos agradáveis, explicou-me, sem me libertar da ideia de que tratar um doente ou um paciente envolve uma atitude diversa da de lidar com um cliente.
Problema meu – que, como Pedro Tadeu, desconsegui de me habituar à beleza dos novos termos. Há anos que conheço uma lista de «verbos de acção adequados para a definição de objectivos», onde se encontra, obviamente, «implementar», mas também «copiar», «cumprir», «comunicar», «expor», «promover» – mas onde faltam, por serem considerados não adequados, aprender, conhecer, compreender, entender, descobrir, gostar, inferir, julgar, pensar, perceber, perguntar, reflectir, saber. Enfim, grande parte daqueles que Tadeu mobiliza para tentar perceber (ups! Verbo inadequado!) o porquê de substituir trabalhadores por colaboradores.
Julgo, no entanto, que se trata de uma resposta provisória, enquanto não chegam os robôs. É que mesmo sem horário, sem sindicato, sem direitos, um colaborador pode sempre pôr-se a pensar. Vade retro!!!
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