18.11.14

Manuel António Pina, 71



Nasceu em 18 de Novembro de 1943, faria hoje 71 anos. É mais do que trivial, mas não deixa por isso de ser verdade: faz-nos falta, daria mesmo muito jeito que ainda nos ajudasse, todos os dias, com as suas crónicas inconfundíveis e com a leitura dos seus livros.

Hoje, o grupo de «Amigos à Espera do Pina» divulgou publicamente o local onde está sepultado o escritor – o cemitério de Agramonte, no Porto – e organiza iniciativas para assinalar a data do seu nascimento: o descerramento de uma lápide no cemitério, uma exposição, na Alfândega do Porto, com rascunhos e objectos do poeta, e uma sessão, na Biblioteca Almeida Garrett, em que serão lidos poemas de sua autoria.

Em jeito de homenagem, o que julgo ter sido a última crónica que publicou no JN (1/8/2012):

Coisas sólidas e verdadeiras

O leitor que, à semelhança do de O'Neill, me pede a crónica que já traz engatilhada perdoar-me-á que, por uma vez, me deite no divã: estou farto de política! Eu sei que tudo é política, que, como diz Szymborska, "mesmo caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre solo político". Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Portas, de todos eles, da 'troika', do défice, da crise, de editoriais, de analistas!

Por isso, decidi hoje falar de algo realmente importante: nasceram três melros na trepadeira do muro do meu quintal. Já suspeitávamos que alguma coisa estivesse para acontecer pois os gatos ficavam horas na marquise olhando lá para fora, atentos à inusitada actividade junto do muro e fugindo em correria para o interior da casa sempre que o melro macho, sentindo as crias ameaçadas, descia sobre eles em voo picado.

Agora os nossos novos vizinhos já voam. Fico a vê-los ir e vir, procurando laboriosamente comida, os olhos negros e brilhantes pesquisando o vasto mundo do quintal ou, se calha de sentirem que os observamos, fitando-nos com curiosidade, a cabeça ligeiramente de lado, como se se perguntassem: "E estes, quem serão?" Em breve nos abandonarão e procurarão outro território para a sua jovem e vibrante existência. E eu tenho uma certeza: não, nem tudo é política; a política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida. 
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1 comments:

carlos braga disse...

Não podia deixar de comentar. Gosto tanto do Manuel António Pina! Do homem simples e das crónicas que eram absolutamente brilhantes. Comprei todos os livros que entretanto foram saindo com as suas crónicas. Tenho ainda um livro de poesia (poesia reunida) que o próprio Manuel António Pina autografou.
Faz-nos, de facto, muita falta!
Beijo