10.12.14

Ainda sobre mexilhões



«Nos últimos dias, a imaginação liberal de Pedro Passos Coelho tem andado tão activa como a do professor Pardal. É uma agradável mistura de darwinismo social e de Schumpeter em versão Anita no Jardim Zoológico.

Como ideólogo, Passos Coelho garante assim um lugar privilegiado na elite portuguesa. Em poucos minutos, o primeiro-ministro conseguiu alargar a teoria do mexilhão, mostrando quem era o alvo da crise: a classe média. Foi ela que se atolou no meio de impostos e cortes de retribuições. E assim ela desceu ao nível do mexilhão.

Segundo Passos Coelho, a crise também não agravou as desigualdades: serviu para as "corrigir". Ou seja, a desigualdade foi alargada a muitos mais portugueses, abrindo-se um fosso cada vez mais visível entre quem tem e quem não tem. Em vez de ascensão social criou-se o fenómeno do decair social, rumo a uma sociedade de "low-cost", cada vez mais visível e onde todos lutam contra todos pela sobrevivência. Mais importante, Passos Coelho sorriu magnânimo ao dizer que os donos do país estão a desaparecer. (...)

Os liberais portugueses acantonados à volta do Governo são muito originais: com a carga fiscal brutal e o desemprego afundaram a mobilidade social. Destruíram qualquer tipo de segurança dos cidadãos. Atiraram todos para o nível do mexilhão. E ainda riem quando falam disso.»  

Fernando Sobral

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