9.12.14

Corrupção e desigualdades


O texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) de Dezembro:

«Crise económica, crise social. Um Orçamento de Estado para 2015 que insiste na austeridade e no empobrecimento, uma dívida astronómica e impagável em democracia, desigualdades gritantes e crescentes, um desenvolvimento adiado, a multiplicação de casos de corrupção. Só quem não compreende o quanto as sociedades são ecossistemas se espantará com a coincidência, e interligação, de todas as vertentes do colapso que estamos a viver.

O ano de 2014 vai terminar marcado por múltiplos casos do foro judicial, que farão transitar para os anos seguintes complexos processos de investigação, julgamentos e sentenças que envolvem figuras e instituições ligadas ao poder económico, financeiro e político. Os chamados "caso GES/BES", "caso dos vistos Gold" ou "caso José Sócrates", juntando-se a outros que se sucederam num passado recente, envolvem, entre outras, suspeitas ou acusações de práticas criminosas, de gestão danosa, de fraude fiscal, de branqueamento de capitais e de corrupção.

Seja qual for o desfecho dos processos, apurem eles matéria susceptível de condenações ou ilibações, anunciam-se procedimentos complexos, mais morosos do que seria desejável e com imbricamentos que tenderão a extravasar o campo estritamente judicial, como é o caso do campo mediático. Com a ajuda deste, e com alguns órgãos de comunicação social useiros e vezeiros na substituição da investigação jornalística por fugas ao segredo de justiça, assim degradando o jornalismo e corroendo a justiça, instalou-se um clima de "directos" que nada acrescentam senão ansiedade e comoção, e que disfarçam mal a (contudo compreensível) ausência de informação.

Juntemos à pressão do imediatismo ansiogénico as fortes emoções antagónicas suscitadas quer pelo combate político quer pela competição nos negócios, tudo isto numa situação de quatro anos de profunda crise económica e social e de percepção pública do quanto ela deve à corrupção e ao poder dos grupos económicos na acção política, e será fácil compreender como depressa de cavaram trincheiras onde se acantonaram posições fechadas, e como tantas opiniões e convicções se transmutaram em certezas inamovíveis, por vezes com laivos justicialistas.» 

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