29.1.15

Grécia, o frio da navalha



«Foram os gregos quem, no início do século XIX, introduziram o nacionalismo nos Balcãs. Tinham uma "grande ideia", que era criar um estado único, juntando as populações gregas do Próximo Oriente. A capital seria em Constantinopla. A ideia faliu.

Dois séculos depois, com empréstimos e uma dívida pública impossível de pagar, a Grécia parece uma colónia económica (e política) da Alemanha e dos seus aliados. Quem domina a dívida, determina a política. Portugal conhece isso.

A vitória do Syriza, para lá da dívida e do défice, veio colocar uma outra questão no fio da navalha: é fria e todos ficam receosos dela. Os eurocépticos querem demolir a União Europeia. Desejam mais políticas nacionais. Por isso mesmo o radicalismo de Alexis Tsipras não tem a ver com o nacionalismo resistente que pugna para a Grécia. Tem sobretudo a ver com o que ele deseja para a Europa. A sua vitória será clara se a vitória na Grécia se estender às eleições em diversos países europeus neste ano, da França à Espanha. (...) Quem quer a mudança não está no conforto central: arrisca na margem e espera. (...)

A questão grega não vai ser sobre dívidas ou défices. Ela é o vírus fortificante de um novo nacionalismo pan-europeu, como já perceberam Marine Le Pen ou Vladimir Putin, enquanto as sociedades, após a destruição das moderadoras classes médias pelas políticas de austeridade, se aproximam das margens. À espera que algo mude.» (Realce meu.)

Fernando Sobral

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