«Lenine explicou um dia aos bolcheviques o acordo com os sociais-democratas de Kerensky para derrubar o czarismo. Era simples: um passo atrás, dois passos em frente.
Lenine acreditava que a vanguarda armada acabaria por tomar o poder pela força, afastando depois os aliados circunstanciais. Antonio Gramsci tinha uma outra fórmula: para ele o poder era o domínio sobre o aparelho de Estado; a hegemonia era o domínio psicológico da multidão. Lenine acreditava que se tomava o poder para conseguir a hegemonia: Gramsci prescrevia a hegemonia para se ser levado ao poder de forma suave e óbvia.
O Syriza tomou o poder depois de assegurar a hegemonia junto das multidões gregas. E alargou a sua hegemonia aos europeus que olham para esta UE como se ela fosse o símbolo da ditadura financeira sobre a democracia política. Tsipras joga com o medo e este nunca foi tão grande. Não por causa dos défices. Mas porque a Ucrânia está às portas de uma guerra sem limites e a Grécia faz parte da NATO.
As reuniões de hoje e amanhã e o risco de a máquina do dinheiro ser desligada, obrigando a Grécia a sair do euro, poderão abrir uma crise sem limites. Mas é aí que o Syriza vence: o destino desta Europa decide-se nestes dias. E não é uma decisão financeira. É política. O Norte deixou de desconfiar do Sul: é hostil a ele. E o Syriza venceu esta batalha: sem que ninguém o quisesse, atrelou o destino de Portugal, Chipre e Itália ao da Grécia. Obama já percebeu isso. O chanceler austríaco também. Tudo pode acontecer, mas está já escrito nas estrelas: este euro tem os dias contados.»
Fernando Sobral
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1 comments:
Nota para Fernando Sobral, por intermédio da Joana. O título de Lenine é o contrário - Um passo em frente, dois passos atrás - e tem a ver, em 1904, com a crise no partido russo, entre revolucionários e oportunistas. Kerensky só muito depois é que entra nesta história.
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