9.2.15

O euro, a Alemanha e o resto



«Num dos mais memoráveis diálogos do filme "Casablanca", o capitão Renaud pergunta a Rick: "Porque é que veio para Casablanca?" Diz Rick: "Vim para Casablanca por causa das águas." Renaud: "Quais águas? Estamos no meio do deserto." Rick: "Informaram-me mal."

É tudo uma questão de má informação, de ilusão ou mesmo de alucinação que assistimos hoje na Europa. Quando se tornou o euro um deus a quem se sacrifica tudo e todos, o resultado trágico era previsível. Não há água para nadar e descobrir outras paragens. Há deserto para todos perecerem de sede. (...)

O euro tornou-se um garrote: vai asfixiando devagar as suas vítimas, em nome do combate à dívida e à estabilidade da moeda. A única libertação para quem está já sem pinga de oxigénio é a expulsão do euro. Que é o que Draghi e os seus compadres estão a fazer à Grécia, mesmo com paliativos temporais. Nada se resolverá, nem mesmo com as ameaças das vitórias do Podemos em Espanha ou da extrema-direita no Norte da Europa ou em França, enquanto a Alemanha não se sentir ameaçada nos seus interesses.

É óbvio que é necessário um pacto geral na Zona Euro sobre as dívidas públicas. Se ele não se fizer, o aquecimento global político acabará por tornar a Europa do Iluminismo num imenso deserto. Diferente da terra das águas livres que teriam prometido a Rick antes de ir para Casablanca.»

Fernando Sobral
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