22.2.15

O Mediterrâneo e o destino da Europa



«O destino da Europa escreve-se, por estes dias, no Mediterrâneo. Nas suas águas e nas suas margens. Mar de encruzilhadas políticas, económicas, culturais ou alimentícias, o Mediterrâneo assiste a um tumulto gigante. Seja na Grécia, seja na Líbia ou na Síria.

Enquanto os europeus estão apenas preocupados com o cumprimento das medidas de austeridade pela Grécia, do outro lado do mar os radicais do Estado Islâmico apontam a Roma, ocupando os territórios onde não há Estado, uma "cortesia" da NATO, da União Europeia e da NATO em defesa da "democracia". No mar buscam milhares de emigrantes um futuro em forma de terra prometida, a Europa. (...)

O Mediterrâneo foi uma zona de equilíbrios, mesmo quando as guerras o assolavam. Nas suas margens nasceram e cresceram algumas das civilizações fundamentais do mundo. Como dizia Fernand Braudel, o grande estudioso do Mediterrâneo, quando a vida não se equilibra, desaparece. O Mediterrâneo apesar de tudo sobreviveu, mesmo à ida de Vasco da Gama à Índia, que criou um novo circuito comercial, o que implicava a falência das rotas que lhe garantiam a riqueza. Mas o Mediterrâneo foi mais do que isso. Era a fronteira porosa entre as duas sedes da religião, Roma e Meca, onde nascem os anos zero: o do nascimento de Cristo e o da fuga de Maomé de Meca a Medina. Por isso a Grécia, país do euro e da NATO, é tão vital. Por isso, enfrentar de vez o problema do Estado Islâmico nas costas da Líbia é outro. (...)

Talvez seja o tempo de rupturas para que a Europa perceba realmente o que está em jogo. Para ser respeitada no mundo, para poder continuar a ser um foco de sonho (como referência do Iluminismo, das ideias, da ética democrática e da moral capitalista, do futuro), a Europa precisa de olhar para esta crise e utilizá-la como motor de uma profunda mudança interna. Onde devem existir regras, mas também discussão e não hegemonia de alguns face a quem quer ser "bom aluno" ou "mau aluno". Nunca, desde a II Guerra Mundial, a Europa esteve tão perto de ter de decidir o que quer ser no futuro. Ou, pior, não quer ser.»

1 comments:

septuagenário disse...

Este post aborda algo muito real que é o perigo que vem pelo mediterrâneo.

E parece que a Alemanha, tal como nas outras guerras, não tem ao seu lado gente como os ingleses que deviam colaborar mais.

Esta guerra que noutro comentário exagerei ao chamar-lhe a 4ª grande guerra ( 3ª foi a g. fria), parece que a Alemanha está a ficar sozinha.

Luta pelo Euro, pela Ucrânia, a ainda recente Alemanha de Leste, a Hungria anda aos zig-zag, e a Inglaterra olha de soslaio contra o EURO, e está a tentar islar-se em relação à Europa.

Se a Alemanha perder a guerra,a Europa tem que ajoelhar-se a apanhar os cacos.