«Vamos lá ver, senhor PR. O senhor pode ainda não ter percebido bem. O senhor, no fim do ano, vai sair de Presidente. Não vai alugar o palácio ao outro que vem lá a seguir. Esqueça o "lamento, mas o próximo PR não pode trazer cães". (...)
Ninguém me tira da cabeça que isto de Cavaco Silva vir dizer que o próximo PR tem de ter carreira internacional só tem uma justificação possível. O PR está a deixar-se levar pelo coração. É a paixão a falar. Tem coragem e diz o nome, Aníbal. Todos sabemos que é a Kátia Guerreiro.
Independentemente do "timing", não é bonito este tipo de testamento, já temos quase 40 anos de Cavaco, não queremos eternizar isto, não queremos mais conselhos, queremos que desapareça no nevoeiro se for caso disso. Cavaco Silva não é um déspota com sonhos de ficar imortalizado, é apenas o tio chato, mesquinho, sem noção das conveniências, de quem finalmente nos livrámos mas que, depois de arrancarmos, ainda nos liga a teimar que é melhor ir pela Vasco da Gama.
Mais patético do que ter o PR a dar palpites cifrados sobre o seu sucessor, qual El-Rei Cavaco, o do BPN, são os pseudo-candidatos a tentar encaixar no perfil. Uma espécie de madrastas a tentar enfiar o pé no sapatinho cristalino do príncipe Cavaco. É patético e contraproducente. Porque, pelos conselhos - e ordens - que Cavaco tem dado ao país, ao longo destas décadas, de imediato temos o reflexo de fazer o contrário do que ele propõe. Se ele aconselha um Presidente com experiência em relações internacionais, o nosso sentido de sobrevivência vai à procura de um candidato que tenha agorafobia e só fale mirandês.
Portanto, na minha opinião, isto foi uma partida que Aníbal lhes fez. Jamais o nosso PR iria propor para o seu lugar alguém que fosse o oposto do que ele é. Era confessar - se vocês se querem safar, para a próxima década, arranjem alguém que não seja como eu. Se repararem bem, aquilo do oposto ser um mirandês com agorafobia não anda muito longe do que é Cavaco Silva. Ou seja, ele está a usar psicologia invertida connosco como se fôssemos uns miúdos totós. É chocante! Mas... há que reconhecer que, na realidade, ele tem pelo menos duas eleições para ter razões para pensar assim.»
João Quadros
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