«A Europa já não é a caverna cheia de tesouros descoberta por Ali Babá. Escusa-se de dizer: "Abre-te, Sésamo!" A Grécia do Syriza descobriu isso: disse a frase mágica, mas a porta não se abriu e não teve hipótese de partir para junto dos eleitores gregos com um saco cheio de ouro.
A Europa fechou-se sobre si mesma e só fica com pele de galinha quando Alexis Tsipras apanha o avião para Moscovo e em troca do dinheiro que Vladimir Putin não tem (mas do gás a preços mais baixos que pode disponibilizar) testa a frágil Linha Maginot da Europa: a aliança com a UE e a NATO pode ser trocada por uma outra com o Kremlin. E é aí que os Estados Unidos, que têm uma estratégia, fazem soar as sirenes, enquanto os europeus continuam a olhar apenas para a caixa registadora, que transformaram no símbolo da ideologia europeia.
No meio de tudo isso, Tsipras aproveita para arrepiar os alemães contabilizando as "indemnizações da ocupação nazi" devidas à Grécia. Se isto não é uma Europa comum, com uma moeda única, o que será a integração europeia? A crise económica europeia transformou-se numa desidratação política e moral do Velho Continente. O modelo de vida criado no século XVIII está a desmoronar-se completamente e a Europa, face aos poderes e práticas emergentes em todo o mundo, afunda-se, com a cabeça enterrada na areia. Afinal tudo se reconduz a interesses particulares. (...) O problema grego é apenas a borbulha mais visível, e que mais depressa rebentará, nesta Europa de interesses privados disfarçados de interesse comum. Onde todos fingem uma vontade única. A Europa foi, em tempos, um "Abre-te, Sésamo!". Hoje é uma caverna fechada, cheia de teias de aranha. E sem ideias de futuro.»
Fernando Sobral
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