«As portas do Inferno por onde Dante passa na "Divina Comédia" têm uma frase inscrita: "Deixai toda a esperança, vós que entrais". A União Europeia tem a sua própria porta do Inferno: é o mar Mediterrâneo. (...)
Os refugiados, fugidos da guerra e da morte, são hoje milhares. E amanhã serão milhões. Vindos do centro de África e não apenas da Líbia e da Síria. É isso que a aristocrática e flácida Europa é incapaz de perceber. Porque agora está perante um dilema insolúvel: por um lado quer limitar os emigrantes vindos de África (até com medo de terroristas), mas por outro a avalanche de refugiados será impossível de suster.
Não sendo um paraíso, a Europa representa a fuga à morte pela fome, pela falta de opções de vida e pelos grupos terroristas, do Estado Islâmico ao Boko Haram. Mas a catástrofe que estamos a ver é o fruto da política de Disneylândia mortal que a UE e a NATO aplicaram a África. Em nome da democracia desmantelaram os Estados que serviam de tampão, a Líbia e a Síria. Pela sua altivez nunca investiram na criação de riqueza e emprego nos países africanos, para que aí os seus povos pudessem viver em alguma harmonia. Pela sua idiotice permitiram a proliferação de grupos armados que hoje traficam seres humanos, destroem marcos de civilizações antigas, corroem estruturas de Estado e impedem a paz.
A UE cavou a sua própria sepultura. Porque os mortos que se irão continuar a acumular entre os desertos de África (porque aí morrem mais do que no Mediterrâneo) e o mar que foi da paz vão ser o inferno da Europa.»
Fernando Sobral
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