«O Photoshop mudou tudo. Criado há 25 anos, destruiu o velho princípio do ver para crer. Durante muito tempo alterar uma foto só estava ao alcance de quem tinha poder para manipular a história.
Hoje a democratização da manipulação permite que o valor de uma foto seja tão volátil como certas acções ou obrigações. Ou certas palavras.
O Photoshop alargou-se à política, tornando-a uma espécie de máscara que se tira e põe, como um emplastro que ora dá jeito, ora não dá. Na política nacional usam-se factos como artifícios. Veja-se: Paula Teixeira da Cruz argumenta com uma taxa de reincidência de pedófilos a rondar os 80% para justificar uma lei. Na realidade parece que a taxa nem chega a 18%.
O Photoshop político serve o objectivo: cria-se uma imagem falsa para justificar uma opção tomada. (...)
Outro membro do Governo vem fazer um teledisco a apelar à vinda de 40 jovens de talento para Portugal por ano. O emplastro foi atirado para fora da foto: os 350 mil portugueses que fugiram nestes anos de sangue suor e lágrimas. Uma ministra lembra que estamos de cofres cheios e o ministro do Emprego diz que ninguém pára a recuperação económica. Lado lunar da foto: o desemprego voltou a subir para assustadores 14,1%. Ou seja, todas as imagens são adaptadas aos factos que se querem vender. O que não interessa segue o destino que Estaline reservava nas fotos aos seus inimigos: iam-se evaporando. Até ele ficar só.»
Fernando Sobral
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