«Foi mesmo uma vitória para as esquerdas.
Primeiro, porque as esquerdas conseguiram o mais importante nas eleições mais difíceis: demonstrar que o bipartidismo (em Portugal, o termo consagrado é “alternância”) pode ser posto em causa. (...) Segundo, porque este desequilíbrio do sistema político tradicional permitiu vitórias fundamentais, como a de Alda Colau em Barcelona e de Manuela Carmena em Madrid. Levaram o movimento social à vitória eleitoral. (...)
Agora, como é de esperar, haverá discussão entre as esquerdas de outros países sobre como interpretar estes resultados e até haverá quem os reclame como se fossem seus. Vale a pena uma reflexão sobre estas lições, sobretudo porque em Portugal ninguém se prepara para as acompanhar.
Vale a pena porque, num tempo em que a Grécia anuncia que já não tem mais dinheiro para pagar aos credores institucionais e caminha para a insolvência, todas as questões europeias são mais relevantes do que nunca. A União Europeia, que não permitiu ao governo grego reestruturar a dívida e continua a exigir a redução das pensões, muito menos aceitará em Espanha uma política que se desvie da austeridade. Estamos portanto todos no mesmo barco.
Por isso mesmo, é pena que em Portugal as esquerdas estejam divididas para fazerem o contrário do que deu a vitória em Espanha. Uns porque acham que é apoiando o centro que terão “um pé no governo” e, portanto, favorecem o “voto útil” no PS, esperando que a alternância resolva os problemas do país. Outros, a maioria, porque acham que a convergência é inútil e há pouco a fazer.
Uns e outros estão errados. Uns porque não podem o que querem e outros porque não querem o que podem.»
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