25.7.15

Dignidade e luta


O artigo de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) de Julho de 2015:

«No referendo realizado a 5 de Julho, 61,31% do povo grego rejeitou continuar a ser vítima da austeridade que os credores institucionais – o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) – insistem em impor nas negociações com o governo de Alexis Tsipras. A recusa dos gregos foi um gesto de enorme coragem e dignidade, que mostrou, entre outras coisas, que a estratégia do medo tem os seus limites quando aplicada a um povo que já tem muito pouco a perder, e tem todos os sonhos de justiça e democracia para recuperar.

Depois de cinco anos a ser vítima da receita austeritária, que ainda agravou mais uma crise alimentada por décadas de governos ruinosos, a maioria dos cidadãos gregos sabe, por experiência que, em regime de austeridade, não há regresso possível a uma trajectória de justiça social, nem de desenvolvimento económico. Como resposta da União Europeia à crise internacional iniciada em 2007-2008, a austeridade falhou. Falhou na Grécia como em Portugal e só aumentou o défice, o desemprego e a dívida. Os poderes político e financeiro que governam a União sabem disso, aliás. Limitam-se a aproveitar a janela de oportunidade, enquanto os povos não a fecharem, para diminuir os salários e pensões, desmantelar o Estado social e os serviços públicos, privatizar a preço de saldo e especular com os juros da dívida.

O povo grego, aceleradamente politizado por uma realidade de empobrecimento, injustiça e privação de instrumentos democráticos de política, votou consciente da capacidade que os credores financeiros internacionais têm de lhes infernizar ainda mais a vida. Mas nos últimos cinco anos eles já passaram demasiado tempo noutras muitas filas: à procura de emprego, alimentos, medicamentos, consultas. Agora disseram basta. Já chega de humilhações e de políticas punitivas. Sabem que o futuro está cheio de incertezas, mas querem construí-lo a partir de uma esperança comum e não de uma morte imposta e certa.»

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