28.9.15

Os contos de fadas



«A retórica desorganizada a que, por piedade, se está a chamar campanha eleitoral é o reflexo cultural da pobreza decretada nos últimos quatro anos e da falsa riqueza propagada nas décadas anteriores. O país, alegremente, acreditou sempre na melodia pimba que, com mais ou menos ritmo, entrou nas suas casas. Como sempre o português adaptou-se, tentando sobreviver entre a chuva, sem se molhar muito. É por isso que as sondagens são tão frias nos números e na falta de emoção.

A política não é uma escola de gentileza, mas esta campanha deslocou-se para um território desértico, onde tudo o que é essencial não se discute. (...)

Mas quem é que se preocupa com um assunto destes [Novo Banco] que parece não ser suficientemente forte para agitar a campanha, tal como não é o desemprego, a carga fiscal ou a miséria educativa? Estas eleições não estão a ser a mãe de todas as batalhas: são o pai de todas as incertezas. Em que a sereia do progresso e do futuro não apareceu para cantar aos marinheiros portugueses, perdidos no seu próprio conto de fadas.»

Fernando Sobral

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