«Na política não há nada de mais estimulante do que ter um adversário que nos tenta destruir. Isso obriga-nos a valorizar a nossa existência. Cavaco Silva e António Costa pareceram, na tomada de posse, dois homens à beira de um duelo.
Mas se Cavaco foi excessivamente agressivo, Costa fez do apelo à conciliação a sua bandeira. São duas estratégias claras: Cavaco, aliado ao sector mais militante do PSD e do CDS, pensa que é pela guerrilha que se destruirá Costa. Este, sensatamente, percebeu que é pela diplomacia que se esvaziará o ruído da direita e se ocupará o deserto que é o centro político de hoje. Portugal não vai aguentar um duelo permanente. Mas também não haverá condições objectivas para isso. Num dos contos de Joseph Conrad, dois oficiais do exército de Napoleão vão-se batendo em duelo durante 15 anos enquanto a Europa continua numa guerra sangrenta. Como se estivessem acima disso. Portugal não aguentará isso, mesmo que haja desprezo e vingança pelo meio.
Neste duelo entre Cavaco e Costa não tem de haver um vencedor, porque há um vencido claro: o actual Presidente da República, porque esta Assembleia da República sobreviverá à sua partida. O poder de Cavaco é efémero: está de saída e a sua voz política vai eclipsar-se a partir daí. Vamos entrar num outro tempo político que termina com a era do cavaquismo e que poderá fazer implodir a hegemonia ideológica de um PSD rendido às teses do CDS e dos gurus que manobram os cordelinhos por trás. Marcelo Rebelo de Sousa já percebeu isso. Este Governo não será frágil, como julgam PSD e CDS. E Cavaco. Ninguém assaltou o Palácio de Inverno com tropas bolcheviques. Mas a política (até económica) será diferente a partir de agora.»
Fernando Sobral
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