«Depois de dias e uma reclusão que se confundiu com uma depressão, Cavaco Silva reapareceu através de um comunicado. Ao contrário de Gasparzinho, o fantasma espacial, que procurava sempre novos amigos, Cavaco vai sempre renovando os seus velhos pesadelos.
Tornou-se, ele próprio, o símbolo da instabilidade. Em concordância com o seu trajecto, Cavaco tenta não mudar nada e adiar tudo. Como tem feito, desajeitadamente, há meses. Continua a considerar que está certo e que foi a realidade que se equivocou. E que esta deveria mudar, para se adaptar ao que pensa que é a linha justa para o país. O problema é que encontrou pela frente um líder político como António Costa que acredita nas leis da dialéctica.
Ou seja, que a oposição dos contrários dará lugar a uma nova síntese que supera as contradições da tese e da antítese. Confusos? Só Cavaco o está. Por isso a dupla contradição da sua redacção: encarregou António Costa de promover uma solução governativa "estável, duradoura e credível" e por outro lado pede-lhe "clarificação formal" de "omissões". Cavaco quer mais documentos, talvez escrito com o sangue como se fazia nos tempos da editora Factory com os New Order e o proprietário Tony Wilson. Um sonho inútil.
António Costa encurralou Cavaco e este tem tanto poder numa mão como na outra: nenhum. Por isso, adia o inevitável. Não percebeu que a realidade é uma coisa dinâmica. É por isso que as folhas de excel, que tentam modelar a realidade, também se enganam. Cavaco pode pedir "formalidades", mas são os factos políticos que determinam o presente. O PR já não é dono da realidade que julgou ter criado e que agora se revoltou contra os modelos existentes.»
Fernando Sobral
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