31.12.15

O grande mal-estar continua



Um importante texto de Joseph E. Stiglitz.

«O ano de 2015 foi globalmente difícil. O Brasil entrou em recessão. A economia chinesa registou os seus primeiros solavancos sérios depois de quase quatro décadas de crescimento alucinante. A Zona Euro conseguiu evitar um desmoronamento à conta da Grécia, mas manteve-se numa situação de quase-estagnação, contribuindo para o que seguramente será visto como uma década perdida. Para os Estados Unidos, 2015 era suposto ser o ano que finalmente viraria a página da Grande Recessão que teve início em 2008, mas, em vez disso, a retoma norte-americana tem sido mediana. (…)

A estrutura económica desta inércia é fácil de compreender e existem remédios facilmente acessíveis. O mundo confronta-se com uma deficiência da procura agregada, resultante da conjugação de uma desigualdade crescente e de uma insensata vaga de austeridade orçamental. Os que estavam no topo gastaram muito menos do que aqueles que estavam no fundo – e, por isso, à medida que o dinheiro sobe, a procura desce. E países como a Alemanha, que mantêm excedentes externos de forma consistente, estão a contribuir significativamente para o problema-chave da insuficiência da procura global. (…)

A única cura para o mal-estar mundial reside no aumento da procura agregada. A ambiciosa redistribuição de rendimentos poderia ajudar, tal como uma profunda reforma do nosso sistema financeiro – não só para evitar que este penalize as restantes pessoas como também para conseguir que os bancos e outras instituições financeiras façam aquilo que é suposto fazerem: fazerem corresponder as poupanças de longo prazo com as necessidades de longo prazo em matéria de investimento.

Mas alguns dos problemas mundiais mais importantes exigirão investimento dos governos. Essas despesas públicas são necessárias em infra-estruturas, educação, tecnologia, ambiente e facilitação das necessárias reformas estruturais em todos os cantos do mundo.

Os obstáculos com que a economia global se confronta não têm as suas raízes na economia, mas sim na política e na ideologia. O sector privado criou a desigualdade e a degradação ambiental com que temos agora que contar. Os mercados não conseguirão, por si só, resolver estes e outros problemas críticos que criaram nem devolver a prosperidade. São necessárias políticas governamentais activas. (…)

Os optimistas dizem que 2016 será melhor do que 2015. Isso até pode vir a acontecer, mas só de forma imperceptível. Se não solucionarmos o problema da insuficiente procura agregada global, o Grande Mal-Estar vai continuar.» 
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