«Um dos princípios físicos da segunda lei da termodinâmica diz-nos que todo o sistema tende à desordem e degrada-se devido ao aumento da entropia. Portugal, tal como a Europa, está submetido com paixão a essa lei.
A crise económica acentuou a deterioração do sistema político, tornando ainda mais evidente a sua falta de capacidade para responder aos desafios do presente e do futuro. A patética forma como a Europa está a construir novas fronteiras em nome da segurança elimina uma das poucas coisas em que existia a ficção de um continente unido: a livre circulação. A austeridade totalitária, que agora está a ser esquecida em nome da flexibilidade que França, Espanha e Itália exigem, implode à vista de todos. A Polónia atira para o lixo a liberdade de expressão (valor central da "superioridade moral" europeia) como se fosse um trapo velho. Pelo caminho, sufocada pelos refugiados que chegam às suas costas sem descanso, a Europa continua à procura de uma política credível para resolver uma bomba-relógio que tem nas suas mãos. (…)
A Europa, a que nos acolhemos em busca de calor maternal depois do fim do império, é hoje uma farsa semelhante àquela que motivou movimentos como o Dada nos tempos da Primeira Guerra Mundial. É claro que tudo isto está ausente dos debates que envolvem os candidatos presidenciais nacionais que se começam a parecer com um triste grupo de tertulianos que discutem o futuro do país à mesa de um café.
A entropia transferiu-se para a preguiça política e os candidatos a Belém dissolvem-se no seu café com leite sem sabor e sem aroma. Numa Europa intragável assistimos a uma campanha intratável.»
Fernando Sobral
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