«A Europa, mais bem dito, a UE que ainda continua a ser um projeto em construção mudou radicalmente de rumo ao aceitar pacificamente reduzir esse projeto à sua dimensão financeira. Há de facto uma crise económica e, sobretudo financeira, mas é neste ponto que a informação produzida, diariamente em catadupas, vai passando, sucessivamente, para segundo plano outras crises que, mesmo sendo provisoriamente esquecidas, não deixam de estar dolorosamente vivas. São essas crises que quase paralisam o que podia ter sido um caminho de progresso e bem-estar, que culminou em 2001 com a adoção da moeda única. Previa-se então o prosseguir da construção de uma Europa pujante e solidária com o desenvolvimento de outras geografias, apoiando e apoiando-se nas economias emergentes, assegurando o seu lugar no mundo. Afinal o lançamento do euro estava mal preparado o que, juntando a adesão precipitada dos países do Leste e à displicência com que nos primeiros tempos foi encarada a crise da "subprime" importada dos EUA, deu origem à enorme recessão que, depois de muitos milhões perdidos, ainda dura submergindo os progressos feitos em mais de meio século de existência. Por isso, a UE não só mudou como perdeu o rumo: por falta de timoneiros à altura e por tibieza na forma como atuaram.
Faltam líderes e sobram crises. (…) Ninguém é capaz de dizer basta!? A Europa à deriva vai adiando as decisões até ao momento em que já não vai poder esperar mais. A desesperança cresce e os resultados já estão à vista: a Europa fragmenta-se a várias velocidades e modalidades até se consumar alguma coisa irreparável. Assim, caminha tristemente para a irrelevância e para suicidas soluções nacionalistas e xenófobas.»
José Maria Brandão de Brito
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