«Na Idade Média existiam meios peculiares de descobrir a verdade. O Tribunal da Inquisição garantia uma forma peculiar de justiça. Às mulheres acusadas de serem bruxas davam uma vassoura e depois atiravam-nas de um precipício.
Se voasse, era bruxa, e rapidamente ia novamente a tribunal para ser atirada para a fogueira. Se não voasse, e morresse na queda, era perdoada e a alma encaminhada para o Céu. A atitude de diferentes entidades, no caso da resolução do Banif, assemelha-se muito à aplicação nesta noção muito sombria de justiça. Pelo que se vai escutando de diferentes personagens que estiveram ligadas aos derradeiros suspiros do banco, a trapalhada não poderia ter um desfecho: o Banif fazia de bruxa. Voasse ou não voasse era indiferente porque o seu fim estava escrito. Quando António Varela diz que a Direcção-geral da Concorrência da CE "foi impondo um determinado conjunto de restrições, como os mercados onde poderia estar, o tipo de clientes ou produtos que poderia vender", tudo aponta numa direcção.
A DGCom fechou a torneira do oxigénio e ficou à espera que o doente melhorasse dos pulmões. De alguma maneira faz lembrar o ultimato que fez ao BPI por causa de Angola. Ou seja, a União Europeia deseja criar poucos, mas "bons" bancos e para isso não se importa de arrasar tudo o resto. Como política de concorrência a favor de quem tem músculo não se vislumbram melhores burocratas. Até porque se esquecem sempre de ver as conexões entre bancos, empresas e Estado alemão, onde tudo parece ser permitido à luz das leis europeias. Faz confusão outra coisa nesta telenovela Banif (que abre janelas para o que a UE tem feito quanto ao BES ou ao BPI): as autoridades portuguesas, a começar pelo Banco de Portugal, parecem servos da gleba do que se inventa em Bruxelas e Frankfurt. O que mostra o nosso grau de soberania e voz autónoma quando o interesse dos cidadãos e dos contribuintes merecia respeito. Não é o Banif que parece uma bruxa. É Portugal.»
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