«Depois de ter visto em directo o espectáculo da votação do "impeachment" na Câmara dos Deputados fiquei com a sensação que a corrupção é bem capaz de ser um problema menor.
Olhando para os deputados que representam a enorme nação brasileira, começa o meu espanto porque não sabia que havia tão poucos negros no Brasil e tão poucas mulheres. Na Câmara dos Deputados ainda há menos negros do que nas novelas da Globo e muito menos mulheres jeitosas. Uma pessoa olha para aquele Parlamento, num país como o Brasil, não há negros, quase não há mulheres, só falta haver fado e aquecimento central.
Quando liguei a televisão, aquilo que vi, naquela Câmara de Deputados, parecia uma largada de deputados Carlos Abreu Amorim. Enrolados em bandeiras com o lema "Ordem e Progresso", os deputados do "sim" apuparam mulheres enquanto falavam, uivaram a "gays", dedicaram alma a Deus e aplaudiram eufóricos a homenagem a um torturador de mulheres. Um retrocesso ordenado. Resumindo, vi a mistura da religião a inundar o estado laico, machismo, xenofobia, homofobia, fascismo (e muito mau gosto a vestir). Depois disto, a corrupção quase parece a garota de Ipanema. (…)
O que me faz confusão é como é que este país ainda não deu barraca mais cedo com um Parlamento que vota pelos evangélicos cariocas manetas e pela fofa da netinha Soraya. Ao menos cá só votam pela Casa Mozart e pela Arrow Global, é outro nível.
Deixei o horror para o fim. Um deputado, Bolsonaro, visto por muitos como o grande candidato a PR, dedicou, perante ovação, o seu voto "sim", ao coronel Usra, a quem chamou o "Terror de Dilma", e eu fiquei aterrorizado. Um "homem" homenageia o torturador de Dilma, um sub-humano, felizmente já falecido, que enfiava ratos nas vaginas de grávidas como método de tortura, e aquela câmara aplaude?!! Bem pode esta gente dedicar votos a filhos e netos, e chamar Jesus Cristo para o seu lado que, nos seus urros e aplausos, vê-se bem que país lhes vão deixar.»
João Quadros
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