3.8.16

Vamos taxar as janelas?



«Em 1686, o Parlamento inglês votou a "window tax" (a "taxa das janelas"). Quanto mais janelas tivesse uma casa mais imposto pagava o proprietário. Os mais ricos, claro, podiam pagar a dádiva.

Os mais pobres tiveram de começar a tapar as janelas e ficar às escuras. Charles Dickens escreveu, mais tarde, que a expressão "livre como o ar" se tinha tornado obsoleta porque desde a imposição da taxa "nem o ar nem a luz são grátis". Muitos anos depois as mentes criativas da Autoridade Fiscal, aconchegadas pela vontade (às escondidas) do Governo de continuar a aumentar impostos, decidiram que Portugal deve regressar à Idade Média inglesa.

Agora, claro, há mais escolha: na época, quem não podia pagar para ter janelas fechava-as; hoje, quem tiver de viver com vista para a sombra, para poupar IMI, pode acender (e pagar) luz eléctrica. Chama-se a isto democracia.

As mentes prodigiosas que desenharam a nova lei do IMI recuperaram, com requintes pós-modernos, a taxa das janelas britânica. Num país de impostos, estas almas penadas vivem à velocidade de um Fórmula 1. Inventam tudo sob o manto protector do Governo e da Assembleia da República porque isso permite, no caso, arrecadar mais dinheiro para as autarquias e aliviar as transferências do Estado central para elas.

Como sempre é o comum cidadão que paga as invenções da Autoridade Fiscal. Habituados à pacatez dos portugueses, estas almas vão continuando a funcionar como Drácula: os portugueses aguentam (ai aguentam, aguentam…) sempre mais um imposto ou taxa. Claro que isso corrói a economia nacional. Mas como o que interessa é alimentar um Estado que não consegue gerir o essencial (saúde, educação, defesa) e tem de alimentar diferentes sanguessugas que vivem da sua bondade e cumplicidade, os impostos estão sempre a crescer. É o milagre da multiplicação, mesmo num momento em que se promete o alívio da carga fiscal. Alguém já reparou no que se está a pagar na factura da luz ou da electricidade? Um dia destes o Estado vai criar um imposto sobre as janelas. Duvidam?»

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