24.9.16

A sociedade insuportável



«O nível do debate político em Portugal anda muito baixo. Raramente se passa da acrimónia, da ofensa ou se esclarece alguma coisa. A agressividade e a demagogia também têm aumentado bastante. É o que temos.

Agravado pelo facto de a direita não aceitar a solução à esquerda e não conseguir ultrapassar o trauma.

Veja-se o recente debate sobre o novo imposto a aplicar ao património imobiliário de elevado valor. Muita gente, mesmo do PS, ficou escandalizada porque uma deputada do Bloco veio anunciar que a medida estava em estudo. Qual é o problema? Nenhum. Os dois partidos assumem que discutem regularmente este e outros temas. Qual é o problema de se falar de algo que ainda não está totalmente definido? Nenhum. De contrário não havia debate, mas mero anúncio. Discutir as coisas antes de elas se formalizarem é, não só democrático, como importante para melhorar a opção final. A ideia de que iniciativas deste tipo devem ser elaboradas no recato dos gabinetes é velha, retrógrada, não corresponde à sociedade aberta e participativa que tanto se apregoa. Deve discutir-se tudo. Ponto. (…)

Estamos a gerar uma sociedade altamente desequilibrada, insuportável, que provoca muita miséria e inevitáveis conflitos. Quando 1% da população mundial tem a mesma riqueza dos 99% restantes só podemos esperar sarilhos. Não há esquerda ou direita, argumento económico ou interesse patrimonial que justifique uma tal situação. Que aliás não funciona. Ao contrário do que afirmam alguns "especialistas", todos os estudos demonstram que a concentração de riqueza só gera mais concentração de riqueza, nunca distribuição e nem sequer mais investimento.»

Leonel Moura

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