«Foi em 1932 que Aldous Huxley lançou um dos mais perturbadores livros do século XX, "Admirável Mundo Novo". O mundo do futuro viveria, segundo Huxley, num "fordismo" extremo.
Os seres humanos veriam satisfeitos todos os desejos, através de uma droga milagrosa. No fundo transformavam-se em máquinas de consumo e já não de trabalho. Há dias, num texto no New York Times, dissecava-se a opinião de Silicon Valley (o epicentro da revolução tecnológica americana e global). Ali se dizia que se alguns pensavam que a emigração, a globalização e o comércio estavam a contribuir para a revolta política e social era melhor esperarem para ver o resultado da robotização que iria mesmo substituir muitos empregos "iintelectuais".
Sabe-se que se assiste já uma deslocalização da Ásia dos salários baixos para a Europa e EUA. Mas ela não vai criar novos empregos. Os trabalhadores estão a ser substituídos por robôs. (…)
Em 1967, antes da Internet ter sido construída, Edmund Leach deu uma conferência na BBC em que dizia que: "os homens transformaram-se quase em deuses". Desde então a nossa civilização tornou-se refém da ciência e da sua evolução. E sobretudo da revolução das tecnologias de informação e das ligadas à saúde. (…)
Segundo alguns, aproximamo-nos de um outro momento culminante, depois da hegemonia da democracia liberal como forma de poder depois do colapso do regime soviético. Mas a grande ameaça à democracia parece agora vir da revolução das tecnologias de informação e das biociências.
A robotização acelerada é apenas o facto já visível desta mutação. Parece cada vez mais claro que os centros das nossas sociedades (individualismo, comércio livre, democracia, direitos humanos) estão a ser colocados em causa pelos "progressos" da ciência e da tecnologia. As escolhas de cada um são cada vez mais determinadas noutras esferas. Os algoritmos de empresas como a Google ou o Facebook conseguem muitas vezes determinar e impulsionar os desejos de cada ser humano antes dele se dar conta. Uma lógica de "vigilância" é já hoje comum neste nosso mundo de mobilidade extrema, onde os telemóveis se tornaram o centro de tudo.
Com todo este aparato tecnológico à nossa volta os seres humanos estão a ser dispensáveis como trabalhadores (e num futuro próximo como militares ou consumidores). Como se conseguirá manter contratos sociais assim? Num mundo de fluxos de "data" que interessará o valor da democracia ou da liberdade individual? Vivemos tempos de mutação. Sonhados em Silicon Valley, esquecidos nesta Europa caduca. Resta saber como aguentará a pressão a panela onde a maioria dos seres se acumulam.»
Fernando Sobral
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1 comments:
Tenho pena de já não poder assistir ao que resta desta civilização do século xx,mas o tempo não pára e todos temos que nos sujeitar à sua evolução ; Quem cá ficar, terá de certeza,a capacidade para viver os novos tempos que se aproximam !!! Quando olho para os meus netos vejo neles uma nova centelha de vida e outra possibilidade de viver que eu quando criança nunca tive !!!O mundo melhor vai surgir naturalmente, como tudo o que aconteceu na natureza até hoje !!!
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