«Eu estava convencido de que o Estado era laico. Afinal, é laico-intolerante. Esta mania de o nosso PM estar de bem com Deus e o Diabo ainda vai dar mau resultado.
Faz-me muita confusão ver tolerância de ponto por causa da visita do Papa. Quando veio cá o Dalai Lama, ninguém lhe ligou nenhuma. Nem o governo anterior decretou tolerância de ponto quando veio cá a Angela Merkel e sabemos que, para eles, a palavra dela é sagrada e que a austeridade era uma religião para aquela gente. (…)
Ainda sou do tempo (Cavaco) que a visita do Papa, além de tolerância de ponto, dava perdão das multas de trânsito. Isso é que era! O que eu gostava mesmo é que o Papa ainda fizesse aquele milagre de tirar multas de trânsito quando vinha a Portugal. Era espectacular. Fosse pecador, ou não, lá iam várias multas de estacionamento para o inferno. Seis meses antes da visita do Papa, eu estacionava em cima de estátuas porque já sabia que aquilo ia ser tudo desculpado graças a um senhor que vivia num bairro chique em Roma. (…)
Vivemos num Estado laico em que, no Prós e Contras, na televisão pública, vão padres debater o casamento homossexual, o aborto e a eutanásia e onde um ex-Presidente da República atribuía o sucesso nas reuniões com a troika a Nossa Senhora. Temos uma TV de um Estado laico que anuncia, com ar sério, a canonização de pastorinhos. Eu sou grande apreciador de ficção científica, mas fora dos noticiários.»
João Quadros
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