«Assaltaram o paiol de Tancos e levaram diverso e mortífero armamento. A primeira pergunta que me apetece fazer é: as armas têm seguro? Não digo seguro contra terceiros, porque fazia pouco sentido, mas seguro anti-roubo. Dava jeito.
Nos últimos tempos, descobrimos que os alarmes em Portugal não funcionam em incêndios, nem em fuga de capitais, paióis e bancos. Só no raio do carro do meu vizinho às duas da manhã! É preciso ter azar.
No meio desta cegada toda sobre o assalto, há uma coisa que me faz muita confusão. Ver tropas especiais a queixarem-se que foram roubadas é o mesmo que ver escuteiros lixados porque ninguém lhes montou a tenda. Quando eu fui à tropa, se deixasse gamar a G3 ("a minha namorada"), estava totalmente tramado. Ainda hoje andava lá a limpar sanitas.
Custa a acreditar que Tancos, dos pára-quedistas e elite, tem segurança privada. E se calhar também tem uma senhora com uma vassoura porque eles têm medo de ratos. Dá para imaginar o seguinte diálogo:
Pára-quedista: - pareceu-me ouvir um ruído lá fora, comando...
Comando: - Não foi nada. Dorme sossegado o teu soninho. Temos os senhores da Securitas a zelar por nós.
Se é assim, em termos de segurança, acho melhor fazer de Tancos um condomínio fechado. Porque dá a sensação que este assalto ao paiol deu menos trabalho do que ir ao Ikea buscar uma cama. Tenho a teoria de que o assalto ao paiol foi feito por senhoras que vão à abertura das lojas da Primark. Aposto que a PJ vai dizer que o buraco na rede do paiol de Tancos foi feito por raio de trovoada seca.
Com o PM de férias, foi o ministro dos Negócios Estrangeiros que tomou as rédeas do caso e, pela cara do Santos Silva, dir-se-ia que quem gamou as armas foram os filhos do embaixador do Iraque. Por momentos, tive receio que Augusto Santos Silva dissesse que o Ministério da Defesa parece uma feira de gado.
Entretanto, Marcelo foi a Tancos fazer como o Poirot. O chamado CSI Marcelo. Foi investigar os roubos. A esta hora, o PR está a tirar moldes dos rastos dos pneus. Mas ainda bem que Marcelo foi lá para investigar. Se calhar, se o nosso PR tem ido para Tancos dar abraços e beijos, então é que seria o fim da virilidade da nossa tropa. Já basta terem deixado roubar as armas. Ainda tínhamos de ver Marcelo agarrado a um pára-quedista a dizer, soluçando:
"Fiquei sem nada. Levaram-me a antiaérea, o lança rockets, até a minha granada favorita". Depois as três televisões uniam-se para um espectáculo - Todos juntos outra vez - com música heavy metal para reunir dinheiro para ajudar Tancos.
Dê lá por onde der, o caso é grave. Ainda hoje, no Chiado, tentaram vender-me um lança-granadas de louro prensado. Mas, no fundo, o que é que se pode esperar de um país que incentiva a estas coisas no hino: "às armas, às armas". Se fosse "às drogas", era uma bronca.
Estou tão farto deste Verão e ainda agora começou. De agora em diante, para ficar mais descansado, eu acabava com os eucaliptos e com os paióis.»
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