«Na política portuguesa irrompeu agora uma personagem chamada André Ventura que, segundo se diz, é candidato do PSD à Câmara de Loures. Habituado a dizer umas larachas sobre futebol, Ventura aplica o mesmo princípio à política: grita umas tolices para que alguém repare que exista. Como se sabe o direito à tolice é reconhecido constitucionalmente. Mas alguns confundem isso com dever. O caso é patético mas é grave. Mostra, desde logo, que partidos responsáveis se deixaram contaminar pelos mestres da pirotecnia televisiva: o que é importante é que os candidatos apareçam na televisão e não que tenham ideias ou valores morais ou éticos. É uma opção. Mas é mais grave quando, face a um coro de protestos (incluindo a saída do CDS da coligação), Passos Coelho continue a desejar "muitas venturas" a Ventura.
A direcção do PSD entrincheirou-se num castelo medieval. E este é apenas o derradeiro exemplo dessa tentação da idade das trevas. Porque as afirmações de Ventura são reais e perigosas. São ética e moralmente vergonhosas mas, na óptica da liderança do PSD, deixam o problema na decisão eleitoral. Serão os eleitores a validarem ou obliterarem estes dislates. O que levanta um outro problema: as declarações convictas de Ventura são típicas de um populismo radical que pouco tem a ver com a ideologia social-democrata do PSD. Ou seja, Passos Coelho abre a porta ao populismo como mantra do seu novo PSD. Vale tudo para conquistar o poder? Sobretudo fórmulas mágicas como convocar instintos primários que têm a ver com preconceitos étnicos? É assim que um partido sério e responsável fica refém do radicalismo xenófobo. Resta saber o que pensam os social-democratas do PSD.»
Fernando Sobral
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