O Verão de 1975 foi bem mais tórrido do que o de 2017, apesar de incêndios e de assaltos a paióis. E precisamente em 8 de Julho de 1975, foi aprovado pelos 240 membros da Assembleia do Movimento das Forças Armadas, reunida durante 18 horas, o «Documento-Guia da Aliança Povo/MFA». Longo foi o enredo das peripécias que precederam a sua existência e aprovação, como fortes foram as reacções negativas imediatas que provocou, nomeadamente de PS, PSD e CDS.
Utópico e irrealizável com tudo o que hoje sabemos? Muito provavelmente. Mas com uma ressalva indiscutível: é hoje muito mais difícil mantermos a tal esperança que comanda a vida.
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O texto do Documento está aqui na íntegra, mas não resisto a transcrever a Introdução – que talvez surpreenda uns tantos.
«A aliança Povo-MFA tem sido uma realidade constante do processo revolucionário até ao momento presente. A acção libertadora do 25 de Abril, continuada por todo um conjunto de atitudes do MFA e dos partidos políticos progressistas e pelas medidas de carácter político e económico postas em prática, tem permitido manter um nível suficiente de coesão Povo-MFA. No entanto, a manutenção e consolidação da aliança Povo-MFA passa, numa primeira análise, pela satisfação das aspirações mais profundas das classes exploradas. Neste aspecto, urge prosseguir a obra iniciada em 25 de Abril de 1974. É dentro do âmbito de uma revolução cultural, pela aplicação das potencialidades militares e civis, nos campos técnico, humano e material que se mobilizará decisivamente o Povo para a Revolução. A prática começa a demonstrar este raciocínio, aliás óbvio. Essa premissa sine qua non de consolidação da aliança está em desenvolvimento e criará as condições para que o binómio motor do processo revolucionário português se mantenha e consolide.
Por outro lado, e ainda numa intenção de mobilizar o Povo para a Revolução, é necessário que às massas trabalhadoras sejam asseguradas condições de participação activa, o que passa por formas de organização popular, numa prática democrática, independente e unitária. Torna-se necessário aproveitar, concretamente, esta realidade fundamental, aliança Povo-MFA, estimulando-a e apoiando-a para a defesa e dinamização da Revolução em curso. A defesa e dinamização da Revolução, na sua actual fase, passam pela realização das seguintes tarefas:
a) Fomentar a participação revolucionária das massas, no sentido de criarem e desenvolverem agrupamentos unitários, numa perspectiva de implantação de verdadeiros órgãos de poder popular;
b) Defender a Revolução dos ataques das forças reaccionárias, através de uma consciencialização profunda das exigências do processo e da criação de organismos de defesa;
c) Vencer a batalha da economia.
Enquanto a produção não for suficiente para as necessidades globais do País, será necessário um grande esforço das massas trabalhadoras. É fundamental, portanto, vencer-se a batalha da economia superando o fraco desenvolvimento das forças produtivas, ampliando e desenvolvendo o controlo operário alargando-se o campo do sector estatal e procurando-se a acumulação necessária à nossa independência económica.»
E já lá vão 42 anos!
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