«Francisco, recuperando a dinâmica interna das comunidades do cristianismo antigo, lança às comunidades a capacidade de decidir. Libertos do espartilho de directrizes claras, perante o incómodo do decidir, escolher e reflectir, a instituição, valorizando a tradição, encontra resposta fácil e segura no conservadorismo. E é este o problema da liberdade numa instituição altamente hierarquizada e sacramentada, habituada a receber ordens muito claras e pouco ou nada questionáveis.
De facto, fomos informados que Manuel Clemente apenas replicara uma indicação de João Paulo II, que reactualizara a castidade dos séculos I e II. E o mais interessante encontra-se exactamente nisso: a resposta ao desafio de Francisco é encontrada num Papa anterior, não numa resposta nova, inovadora. Incapaz de dar respostas ao desafio da liberdade fomentada por Francisco, Manuel Clemente é a imagem de uma Igreja, de um paradigma, que se refugia na tradição, no que a hierarquia já ditou, mesmo que agora não dite. (…)
Ironicamente, ao dar liberdade aos bispos, indo ao encontro do cristianismo primitivo, Francisco faz sair da sombra o conservadorismo latente pela incapacidade da actualização e pela valorização da tradição. (…)
Poderemos mesmo afirmar que a liberdade potenciada por Francisco permite o lugar à normalidade do conservadorismo. É uma ironia que seja através da reacção a um desafio de Francisco que se torne visível e se perceba a dimensão estatística significativa do percurso de conservadorismo na moral familiar e sexual lançada por João Paulo II.»
(Daqui)
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