«As óperas de Guiseppe Verdi ajudaram a unificar Itália. Ele próprio um nacionalista, tinha fortes motivações políticas. Numa carta escrita no momento crítico da unificação, não poupava nas recomendações: "Só há uma música bem-vinda aos ouvidos dos italianos em 1848. A música do canhão!" Republicano e apoiante de um rei, através das suas óperas, como "Nabucco", espalhou as suas ideias.
Um século e meio depois, Itália não busca preservar a unificação. Pelo contrário, parece pedir a desagregação, entre populistas, herdeiros das velhas famílias políticas, defensores de um Norte independente do Sul e uma população que renegou o neo-realismo cinematográfico do pós-guerra.
Os resultados das eleições de domingo assemelham-se a uma comédia de Totò, o célebre actor italiano, onde, no seu maior filme, "O Rei de Roma", é um modesto funcionário que finge partir para umas férias junto ao mar para que o vizinho acredite que não é pobre. Assim a sua filha tem de se bronzear à janela para provar que esteve na praia. E, pelo meio, ainda tem de ensinar um papagaio para substituir um outro, fuzilado pelos libertadores, porque cantava hinos mussolinianos.
Os resultados de domingo seriam uma comédia se Itália não fosse um dos países cruciais da União Europeia e se as soluções de governo não passassem pelo movimento 5 estrelas e pela Liga de Matteo Salvini. O antigo primeiro-ministro italiano sintetizou a alucinação: "As pessoas preferiram os populistas genuínos às cópias." Ou seja, a festa eleitoral ainda vai no ar, para desespero dos burocratas da UE em Bruxelas que deixaram Itália entregue a si quando começaram a chegar as primeiras vagas de emigrantes de África. Mas estas eleições são apenas o início da procissão: a data mais importante para Itália vai ser quando, a 31 de Outubro de 2019, Mario Draghi deixar a presidência do BCE. Desde 2015, o banco central comprou a maioria das obrigações emitidas por Itália. Ninguém quer pensar no que acontecerá quando isso deixar de acontecer.»
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