9.3.18

Ponte sobre o Tejo



«Segundo um relatório do LNEC, a ponte 25 de Abril tem fissuras em pilares, parafusos desapertados e cabos deslaçados, no fundo está um bocado como a revolução que lhe deu o nome. Mas se está em risco de cair faz sentido para aqueles que continuam a chamar-lhe ponte Salazar.

À partida, confio nos estudos do LNEC desde que vi o saudoso engenheiro Edgar Cardoso aos saltos em cima da pala do antigo estádio de Alvalade para provar que estava segura. A verdade é que, mais tarde, o estádio foi demolido e a única parte que se manteve firme e hirta, até ao fim, apesar das obras todas em redor, foi a pala do estádio. Foi graças ao professor Edgar Cardoso que a profissão de engenheiro ganhou um tal estatuto no país que, mesmo depois do que aconteceu com Sócrates, continua a ser bem vista.

Seria uma tragédia se a ponte 25 de Abril ruísse, especialmente se caísse em cima de um daqueles paquetes de cruzeiros cheios de turistas que nos vêm encher os cofres. Por outro lado, o facto de ficarmos só com um ponte podia evitar discussões, muitas vezes quase violentas, entre casais sobre: "Vamos pela 25 de Abril ou pela Vasco da Gama?" É uma das decisões mais terríveis de tomar para quem chega a Lisboa. Se vão mais do que duas pessoas no carro parece o público do "Preço Certo em Euros" a mandar palpites: "Vasco da Gama!" "Sobre o Tejo!"

Fez esta semana 16 anos da tragédia de Entre-os-Rios. Desconfio que pouco se aprendeu desde aí. Inaugurar pilares de pontes não dá votos nas eleições, porque mete mergulhadores e é quase tudo debaixo de água e não dá jeito para tirar fotos ou fazer reportagens. Por outro lado, se muitas vezes o Governo não corrige aquilo que todos vemos que está mal, por que raio iria gastar dinheiro em pormenores que não damos por isso? Não fossem as notícias, sabia lá que a ponte estava neste estado, e passo lá algumas vezes e sou um tipo pessimista e chato, sempre pronto a apontar defeitos.

Agora, não consigo voltar a olhar para a ponte 25 de Abril com os mesmos olhos. Não vou desistir da Maratona de Lisboa deste ano mas, quando passar na ponte, vou em biquinhos de pés. Só volto a sentir segurança a atravessar a 25/4 depois de fazerem um teste com uma feijoada na ponte como fizeram aquando da inauguração da Vasco da Gama. Porque o que nos vai valendo é que Lisboa não é famosa por sismos a não ser em livros de História.

Para terminar, se andamos todos há uns bons anos a fazer de cobaias da Lusoponte, acho que o mínimo é voltarmos aos tempos em que em Agosto não pagávamos portagens. Para mim, não pagar portagem na ponte 25 de Abril era o melhor que o Agosto tinha.»

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