27.4.18

44 x 25 do 4



«Na passada quarta-feira, o país comemorou o quadragésimo quarto ano da Revolução de Abril. Foi bonito. Durante um dia, o número quarenta e quatro não foi associado a velhacarias.

Na habitual cerimónia na Assembleia da República, o Presidente da República chamou a atenção para os perigos do populismo, enquanto tirava uma selfie com cravos. Marcelo Rebelo de Sousa, talvez por respeito para com o padrinho (que teve de ir para a Madeira quando nem hotel tinha marcado), na cerimónia do 25 de Abril, voltou a repetir o que tinha feito no ano passado: não usou o cravo vermelho na lapela, mas levou-o na mão. Apesar de tudo, sempre é um avanço em relação a Aníbal Cavaco, que nunca usou um cravo vermelho. Suponho que por opção, ou porque qualquer símbolo da revolução posto ao peito de Aníbal, de imediato, murcha.

Quando eu era pequeno e vi aquele cartaz do miúdo a pôr o cravo no cano da G-3, achava que ele trabalhava para a PIDE e que aquilo tinha sido uma tentativa de entupir as metralhadoras para os fascistas se safarem. Depois o meu pai lá me explicou que era um símbolo da revolução. Achei estranho uma flor ser um símbolo revolucionário e, durante algum tempo, achava que MFA queria dizer Movimento dos Floristas Armados... Desculpem.

Há que reconhecer que o 25 de Abril tinha uma boa banda sonora. Muito melhor do que, por exemplo, a revolução francesa, que era muito à base de marchas e tambores, e a revolução industrial, que era, quase, só barulho. Para mim, a nível de banda sonora, o 25 de Abril está em segundo, logo a seguir ao 26 de Julho de Cuba.

Outro argumento a favor do 25 Abril é o facto de ter sido uma revolução sem sangue. Os capitães de Abril reuniram-se para fazer uma revolução, e penso que foi o Salgueiro Maia que disse - "Tudo bem. Mas desde que não meta sangue, que a mim o sangue faz-me muita impressão. Não posso ver sangue." E o Otelo concordou: - "Tens toda a razão, camarada, eu sei o que é isso. Tenho pavor de agulhas. Ainda ontem fui levar uma vacina e ia desmaiando. Portanto, fica decidido. O 25 de Abril vai ser uma revolução sem sangue, nem agulhas… nem baratas; que me arrepiam todo."

Voltemos ao presente. Este ano, tivemos uma comemoração quase tão calma e pacífica como a própria revolução. Para celebrar a data da liberdade, António Costa convidou quem quisesse a ir visitar os Jardins da Residência Oficial de São Bento, onde estavam alguns dos mais emblemáticos símbolos de Abril. De destacar, a chaimite, onde foi transportado Marcelo Caetano, que esteve exposta em São Bento e a seguir foi alugada pela Remax a um casal de franceses - "Aluga-se chaimite com muito cachet a São Bento, mil e quinhentos euros/mês - foi um instante."

Para terminar, alguma direita ficou chateada com a inauguração do Jardim Mário Soares, outrora conhecido como Jardim do Campo Grande. Não fiquem chateados. Imaginem que aproveitavam o 25 de Abril para inaugurar a Praça Otelo Saraiva, onde está agora a Praça de Touros do Campo Pequeno.»

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