23.6.18

O pequeno chora, o grande rosna



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Há argumentos utilitários a favor da imigração: uma economia que cresce precisa de imigrantes. Como os EUA. Há um segundo argumento utilitário: os países com uma demografia deprimida precisam dos filhos dos imigrantes. Como Portugal. Nestes casos, abrir as portas à imigração não é favor nenhum.

Há um conjunto de percepções realistas sobre a imigração: a imigração é tanto mais integrada quanto um determinado país tem o elevador social a funcionar e existe grande mobilidade social. Foi o caso dos EUA, que permitiu um melting pot imperfeito, mas mais eficaz do que o europeu. Os imigrantes integram-se no mercado de trabalho sem parecer afectar os nacionais, educam os seus filhos, prosperam e querem ser os novos nacionais. Foi o caso dos EUA, permitindo, por exemplo, ao boat people do Vietname, prosperar na sociedade americana a partir de uma situação de absoluta miséria. Na Europa, de há muito não é assim, e o desastre do upgrade político da Europa começou com o “canalizador polaco”. A crise financeira de 2008 coincidiu com o afluxo de refugiados e a xenofobia cresceu na Europa.

Há um outro aspecto complicado da imigração que atinge mais a Europa do que os EUA: a alteridade cultural exacerbada pelo fundamentalismo tornou muito difícil acontecer o que de há muito acontecia nos EUA — era-se italiano e americano com o mesmo fervor, era-se árabe e americano com o mesmo fervor. Os novos imigrantes queriam ser americanos, mesmo mantendo os seus costumes e tradições, fossem palestinianos, coreanos, filipinos ou portugueses. Nem sempre tudo corria bem, houve variações temporais, em certos locais era mais complicada a integração, noutros a integração era rápida. Na Europa, os turcos na Alemanha, os marroquinos em Espanha e os argelinos (da geração pós-guerra da independência) em França desejavam ser alemães, espanhóis ou franceses por razões utilitárias, mas não se sentiam como tais. Em Inglaterra, as coisas eram menos lineares devido à tradição do Império. As diferenças culturais e religiosas acentuaram uma fractura que se tem alargado com o risco terrorista, mas também com o comportamento muitas vezes ostensivo de certas franjas da imigração muçulmana em matérias como, por exemplo, a situação das mulheres.

Há um argumento moral a favor da imigração: os que estão em melhores condições devem ajudar os que têm mais necessidade. Esta é uma essência do que chamamos “civilização”. A riqueza torna-se obscena quando à sua porta está a miséria. Merecem aquilo que um conto de Poe simbolicamente retrata na Máscara da Morte Vermelha: não há sítio para fugir, “And Darkness and Decay and the Red Death held illimitable dominion over all”.

Há na Europa um ainda maior argumento moral, mais do que um argumento, uma obrigação: muitos dos imigrantes que fogem das guerras e da violência fogem de guerras que os europeus irresponsavelmente desencadearam na Líbia e na Síria.

O que se está a passar nos EUA com Trump, a sua “base” e o partido de Trump, que antes se chamava “republicano”, é uma violação flagrante e inaceitável dos direitos humanos, fazendo tudo para que se torne um exemplo de violência e brutalidade contra os “infectos dos imigrantes”. Se o resto dos países democráticos, e com uma réstia de respeito pelos valores humanistas, tivessem uma coisa que vem aos pares e que tem o nome de um fruto vermelho e que não são os morangos, que não são um fruto, punham o bruto em quarentena, e nem rainha, nem Marcelo, nem ninguém lhe iam apertar a mão e tratavam dos assuntos comuns por via de um qualquer estagiário no serviço diplomático.

Do mesmo modo, o que se está a passar na Europa, em particular na Hungria, Itália e Áustria, e nalguns dos seus aliados menores, não pode ser aceitável pelo resto da Europa que ainda mantém pelo menos o lip service aos direitos humanos. A recente legislação da Hungria deveria implicar a expulsão da União e um movimento, em primeiro lugar, húngaro e, depois, europeu de desobediência cívica, indo lá ajudar os imigrantes.

Não tomem a sério o que se está a passar e, a prazo, a serpente sairá do ovo. Uma serpente moderna, que se sabe manobrar nas redes sociais, e mover-se na televisão, que encontrará primeiro numa franja de imbecis, e depois em gente que adora o poder e que será cada vez mais sofisticada no mal, uma corte de defensores, como já se percebe nos EUA Por cá ainda estamos na fase dos imbecis, mas há uma corte invisível que namora as mesmas ideias de poder e de exclusão, de frieza e de autoridade, em nome do que for preciso. Não, não há progresso na história. Ou a gente defende a fina película da civilização ou os brutos que adoram a força a partem por todo o lado.»
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1 comments:

mensagensnanett disse...

«Ou a gente defende a fina película da civilização ou os brutos que adoram a força a partem por todo o lado.»
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O GRANDE PROBLEMA É ISSO MESMO!!
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---»»» A GENTE SABE COMO SÃO OS NAZIS-ECONÓMICOS HÁ SÉCULOS:
-» ao falar-se em sobrevivência de Identidades Autóctones... os nazis-económicos ficam em fúria: existem investimentos que foram feitos a pensar na substituição populacional dos autóctones!...
[nota: nazi não é ser alto e louro, blá, blá... mas sim, a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros]
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Tal como seria de esperar, os mercenários-palhaço que andam por aí... não falam neste caso: em pleno século XXI tribos da Amazónia têm estado a ser massacradas por madeireiros, garimpeiros, fazendeiros com o intuito de lhes roubarem as terras... muitas das quais para serem vendidas posteriormente a multinacionais (uma obs: é imenso o património no Brasil que tem estado a ser vendido à alta finança).
Mais: os mercenários-palhaço que andam por aí... revelam um completo desprezo pelo holocausto massivo cometido sobre povos nativos na América do Norte, na América do Sul, na Austrália, que (apesar de serem economicamente pouco rentáveis) tiveram o «desplante»... de quererem ter o seu espaço no planeta, de quererem sobreviver pacatamente no planeta, de quererem prosperar ao seu ritmo.
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-» Os mercenários-palhaço da UE procuram 'pendurar-se' em salvadores da demografia. [a comunidade nativa não é demograficamente sustentável]
-» Os mercenários-palhaço da UE são lacaios ao serviço da alta finança (capital global): eles trabalham para a eliminação de fronteiras.
[nota: a alta finança ambiciona terraplanar as Identidades, dividir/dissolver as Nações para reinar...]
-» Os mercenários-palhaço da UE, juntamente com mercenários-naturalizados, perseguem os autóctones que reivindicam o LEGÍTIMO DIREITO À SOBREVIVÊNCIA DA IDENTIDADE.
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Conversa com europeístas é uma coisa para esquecer... urge é arrepiar caminho:
-» urge trabalhar para o SEPARATISMO-50-50.
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Ou seja:
- todas as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta -» INCLUSIVE as de rendimento demográfico mais baixo, INCLUSIVE as economicamente menos rentáveis.
-» Os 'globalization-lovers', UE-lovers. smartphone-lovers {os indiferentes para com as questões políticas}, etc, que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa.
-»»» blog http://separatismo--50--50.blogspot.com/.
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Nota 1: Os Separatistas-50-50 não são fundamentalistas: leia-se, para os separatistas-50-50 devem ser considerados nativos todas as pessoas que valorizam mais a sua condição 'nativo', do que a sua condição 'globalization-lover'.
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Nota 2: Mais, é preciso dizer NÃO à democracia-nazi; isto é, ou seja, é preciso dizer não àqueles que pretendem democraticamente determinar o Direito (ou não) à Sobrevivência de outros.