27.7.18

O acordo comercial e Steve Bannon



«Não foi a paz. Foi uma trégua. A conferência de imprensa, em Washington, de Donald Trump e Jean-Claude Juncker pareceu, sobretudo, um momento de pausa na longa marcha do presidente americano contra a União Europeia. A guerra comercial desencadeada por Trump contra a Europa, a China e mesmo outros aliados (Canadá, Coreia do Sul…) pareceu esfriar, já que UE e EUA prometem novas taxas enquanto decorrerem negociações entre os dois blocos. Ficou-se sem se saber o que acontecerá às taxas já aplicadas, mas da contenda salvar-se-ão os automóveis europeus (e isso era fulcral para a Alemanha, vértice maior deste conflito).

Em troca, a Europa vai ter de engolir soja e gás natural americano. Ou seja, se bem que a Europa vá importar "enormes quantidades" de soja, será difícil que isso substitua as importações chinesas dessa mercadoria. Pelo caminho sabe-se que Trump vai dar enormes ajudas estatais aos produtores agrícolas americanos (12 mil milhões de dólares), dentro da perspectiva "liberal" que acompanha as suas decisões. Há que não esquecer que é neste interior dos EUA rural e agrícola que está um dos bastões fortes de Trump.

A questão central deste aparente acordo tem sobretudo a ver com os EUA e com a Alemanha: os automóveis são uma dor de cabeça de Berlim e a questão energética também. As possíveis importações de gás natural e petróleo americano (muito dele proveniente de gás de xisto através da utilização do pouco ecológico "fracking") podem travar o anunciado plano de construir um gasoduto entre a Rússia e a Alemanha, que tantas reservas tinham merecido a uns EUA que querem exportar o seu excesso de energia para a Europa.

Muito deste pingue-pongue comercial decorre numa altura em que o antigo ideólogo de Trump, Steve Bannon, se instalou na Europa e pretende concretizar um "sonho europeu". Dá pelo nome de "The Movement" e nele Bannon (numa estratégia similar à da Casa Branca, de destruição da UE) pretende unificar todos os grupos da direita europeia mais radical. A sede deste movimento será em Bruxelas e a sua presença nas próximas eleições europeias será uma certeza. Bannon sonha em criar a antítese da Open Society (de ideais liberais), financiada por George Soros. Bannon aproximou-se de Marine Le Pen, Viktor Orban e Matteo Salvini. Tem feito muitas reuniões com grupos de direita radical na Polónia, Eslováquia e República Checa e outras na Áustria, Alemanha, Suécia e Finlândia.

O seu ideal radical e de defesa do ódio parece ser uma base de unificação, tal como o cepticismo face à UE. Enquanto Trump pressiona Bruxelas por via do comércio, Bannon fá-lo através da ideologia e de grupos políticos internos, criando uma espécie de Cavalo de Tróia dentro da UE. O objectivo é só um: destruir a UE, seja nesta ou noutra fórmula. O Brexit serviu, de resto, às mil maravilhas a Bannon, onde utilizou as suas estratégias de "marketing eleitoral" (com ligação forte à Cambridge Analytica e à Aggregate IQ) ao serviço de Nigel Farage. Face a estas ameaças resta perceber o que fará Bruxelas. Ou se manterá esta postura defensiva, visível na ida de Juncker à Casa Branca.»

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