«Carlos César está cansado e nota-se quando fala. Foi habituado a governar nos Açores com a maioria absoluta e a vida é outra coisa, é um descanso. No continente sempre foi almejada e quase sempre não conseguida, salvo com Sócrates, e deu no que deu.
César quer ter as mãos livres para fazer o que quiser, ele e os socialistas de que é líder parlamentar. Está desejoso de um tempo em que “trabalhar” seja gerir a seu bel-prazer os destinos do país. É um desejo ter uma legislatura de papo para o ar, sem prestar contas.
César acusa sérias dificuldades em fazer esforços para governar através de acordos com outras forças políticas à sua esquerda. Cansa-se. Dentro da sua ótica, se tivesse maioria absoluta fazia o que queria sem passar cavaco a ninguém; como Cavaco durante dez anos.
César cansa-se de ter de lidar com a oposição e até com as forças com quem fez acordos. Foi bom que tivesse dado nota do seu cansaço porque alertou os portugueses para essa sua fragilidade.
Como líder parlamentar do PS advertiu que no Parlamento se fatigará sem apelo nem agravo se não tiver mais de metade dos lugares. Deu conta que o PS bem quer trabalhar, mas a dialética resultante dos acordos e da oposição fá-lo emperrar, precisa de roda livre.
Compreende-se num homem cansado por tanto desesperar por uma maioria absoluta. César desabafou. Pôs o coração na boca e saiu este destempero sob esta forma tão subtil... "Estou cansado...” Que maçada.
Na verdade, o PCP, o BE, o PEV e o PAN exigem compromissos na defesa do SNS, da Escola Pública, de uma Justiça mais acessível, da Segurança Social e de uma política de melhoramento das condições de vida, em vez do empobrecimento levado a cabo pelo governo do PSD e do CDS.
Há no desabafo de César uma enorme sinceridade, o que é sempre louvável. A César o que é de César... Se os portugueses quiserem um César descansadíssimo têm de lhe dar uma maioria absoluta.
Neste caso, César chegaria ao Parlamento e saberia que o número de deputados o deixaria à larga, despreocupado. O Governo descansadamente teria no Parlamento um eco que repercutiria o que São Bento propusesse. A Assembleia da República seria uma caixa-de-ressonância do Governo.
César, pomposamente, disse o que os socialistas “preguiçosos” dizem entre eles, porque os há trabalhadores que apoiam os acordos e não se cansam tanto. Se César tivesse maioria absoluta haveria um país inteiro a dividir, na família, uma vida boa.
Pelos vistos, ao cabo de quatro anos não lhe está na massa do sangue ter de negociar com parceiros tesos na defesa da população trabalhadora. É uma canseira, segundo as suas queixas e lamentações.
Se, apesar da “geringonça”, a família está bem presente, imagine-se o que seria com a tal maioria absoluta, o antídoto do cansaço de César. Como ele seria feliz e se sentiria a voar como uma borboleta.
O cansaço de César tem o seu quê para ser levado em conta. Ou o país nas mãos do PS. Ou o PS a governar com acordos à esquerda que dão mais descanso ao país, mas que cansam o líder parlamentar. Opções.»
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