«À medida que se avizinham as eleições, as sondagens tendem a aproximar-se dos resultados eleitorais. Nos últimos 20 anos, o desvio médio das sondagens face às legislativas foi em redor de 3 pontos percentuais e, se considerarmos apenas as que foram realizadas durante as campanhas, as sondagens “falharam” ainda menos.
Não se interprete esta asserção de forma excessivamente determinística. Por um lado, as sondagens são um retrato do momento em que o trabalho de campo é realizado; por outro, elas próprias oferecem informação que os eleitores usam para votar estrategicamente.
Neste momento, haverá alguma margem de volatilidade, mas, no essencial, com base nas sondagens conhecidas, podemos antecipar o cenário de domingo: o PS com vantagem face ao PSD e um Parlamento com uma larga maioria de mandatos à esquerda. Mas, no que é uma singularidade, o voto somado dos dois maiores partidos permanece no limiar dos 70%. Contrastando com as restantes democracias europeias, em particular as da Europa do Sul e aquelas onde o sistema eleitoral é proporcional, as formações do bloco central, entre nós, continuam a revelar uma resiliência surpreendente.
À direita, o voto somado do PSD e CDS corresponderá aos mínimos históricos do campo e estará abaixo do alcançado há quatro anos pela PAF. Ainda assim, Rui Rio terá recuperado a confiança do eleitorado de direita, nomeadamente comparando com a catástrofe de Passos Coelho nas autárquicas. Que o tenha feito com uma estratégia centrista, enquanto a agressividade e a ambição desproporcionada de Cristas foram pouco mobilizadoras, é motivo para reflexão no pós-legislativas.
À esquerda, ficará demonstrado que a satisfação com a ‘geringonça’ deu incentivos para que os eleitores de BE e PCP se mantivessem fiéis. Sem um risco prospetivo de instabilidade, o contentamento com o compromisso entre partidos limitou o crescimento do PS. Com uma tradição de pouca transferência de voto da direita para a esquerda, um resultado muito expressivo do PS dependeria da capacidade de crescer à esquerda. A história da legislatura seria sempre uma restrição aos ganhos à esquerda e as margens à direita estavam, por definição, limitadas.
Em julho escrevi que dificilmente o PS poderia alcançar uma maioria absoluta e que laborar nesse cenário fragilizaria as condições de governabilidade no pós-6 de outubro. A questão que sobra para segunda-feira é, em parte, essa. Saber se a campanha fragilizou a reinvenção da ‘geringonça’ e se os resultados dos três partidos limitam a margem de manobra de cada um deles. Mas, caso a distribuição de mandatos estimada pela sondagem do ICS/ISCTE se confirme, o cenário pode ser outro: com um PS com mais deputados que o bloco à sua direita, assim como o bloco à sua esquerda, poderemos ter um executivo que navegará à vista, umas vezes dependendo da abstenção da direita, outras da esquerda.»
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