3.10.19

Sondagens: povo sábio



«Como é costume, os partidos que estão na mó de baixo e recuperam olham para o melhor que as sondagens lhes podem dar: essa progressão. E o caso de Tancos, mais do que votos, deu discurso ao PSD. E com discurso a campanha ficou mais fácil. O PSD subiu para mínimos de decência. Mas quem olhe com rigor para a sondagem da RTP percebe que a esperança da direita é totalmente vã. Os números gerais são esmagadores. A soma dos votos dos dois partidos da direita parlamentar, a que correspondeu a PaF, estão 18% abaixo dos partidos de esquerda, a que correspondeu a geringonça.

O PS vence as eleições de forma incontestada mas fica longe da maioria absoluta. E o PAN, sem um programa social e económico consistente, não chega, nem no melhor cenário para os dois, para fazer maioria. Não há “gerinpança”. No pior resultado do PS, Costa voltará a precisar de Bloco e de PCP. No melhor, precisa de um deles. Esta é a solução preferida pela maioria dos inquiridos. Do lado da esquerda, a única má notícia é o mau resultado da CDU. Seja como for, os partidos envolvidos na atual solução governativa têm 53% e conseguem uma maioria esmagadora no Parlamento, mesmo no pior de todos os cenários. Está tudo garantido à esquerda.

A direita fica-se com 35% dos votos, pouco mais de um terço, naquele que será um dos seus piores resultados de sempre. Sugando o CDS, o PSD recupera, o que é importante. Importante para poder continuar a haver uma alternativa à direita. E importante porque uma diferença de 15% ou mais, como chegou a existir, levaria a uma maioria absoluta do PS com cerca de 38%, por causa do método de Hondt. Só estreitando esta diferença se impede que os socialistas fiquem sozinhos. Este resultado, não permitindo que a direita regresse ao poder, salva Rui Rio. Isso impede que o PSD seja tomado pela direita mais radical e não abre espaço ao crescimento de fenómenos populistas à direita. Mau é a queda para mínimos do CDS, que pode criar perturbação nesse flanco. Mas o PSD tem de crescer para algum lado.

A simulação de uma dinâmica de vitória no PSD tem efeitos internos positivos, anima a militância e permite que Rui Rio chegue vivo a dia 6. Não muda nada no que é essencial. Com 35% a três dias de acabar a campanha, a direita não sonha sequer com o poder. Sonha em sobreviver. Se estes forem os resultados de domingo, só tenho a dizer que o povo é sábio: não oferece a maioria absoluta ao PS, não entrega a um partido sem programa a capacidade de com ele fazer maioria, mantém intactas todas as condições para a esquerda governar e, deixando a direita em mínimos olímpicos, não a humilha ao ponto de criar ali uma crise no sistema. Claro que cada um dos inquiridos se limita a pensar no seu voto. Mas o resultado geral, se fosse este, seria perfeito.

Nota: o agregador de sondagens da Rádio Renascença dá, na ponderação que faz dos vários estudos de opinião, 38% para o PS, 25% para o PSD, 10% para o BE, 7% para a CDU, 5% para o CDS e 3% para o PAN.»

.

0 comments: