«Portugal anunciou pela voz do seu primeiro-ministro António Guterres que pretendia alcançar a média europeia em termos de produto per capita numa década. Passadas mais de duas, Portugal liderado por elites incompetentes, não conseguiu esse desiderato e encontra-se dezenas de anos atrasado, em relação aos seus parceiros europeus e sem perspetiva de recuperar esse atraso.
Numa tertúlia recente verifiquei que a perceção de muitas pessoas sobre o atraso português é muito enviesada. Para tal muito contribui a televisão que nos devolve uma imagem muito diferente do país real.
O atraso português pode medir-se de muitas formas, mas optei aqui por uma mais intuitiva. Partindo do atual PIB per capita (em paridade de poder de compra) calculei quantos anos nos levaria a atingir o PIB per capita da Alemanha ou da França, o mesmo da Estónia, da Republica Checa. Os números atuais foram retirados do último Índice de Desenvolvimento Humano publicado pelas Nações Unidas (2018).
Assumi duas hipóteses: a primeira que Portugal conseguia recuperar 1% ao ano, isto é crescer 1% mais que cada um desses países. A segunda, mais inverosímil, que conseguíamos crescer mais dos 2% do que esses países.
Os resultados não enganam. Na Hipótese A precisamos de 6 anos para atingir os valores do PIB per capita da Estónia, 12 anos os da República Checa, 23 anos os da Espanha, 37 anos os do Reino Unido, 44 anos os da Bélgica, 57 anos os da Holanda e 68 anos os da Irlanda. Na hipótese B precisaríamos sensivelmente metade desses tempos. Estamos, em qualquer dos casos, a falar de um esforço de várias gerações.
Mas ao atentarmos nestes números verificamos que já estamos muito atrasados em relação aos países pobres de Leste, que acolhemos na União Europeia com sobranceria e que já nos ultrapassaram. A melhor qualidade das elites económicas e governantes permitiu-lhes um crescimento muito superior.
Se fizermos o mesmo exercício com o ordenado mínimo considerando uma recuperação de 2% ao ano, precisamos de 5 anos para atingir os valores de Malta, 12 os da Eslovénia, 21 os da Espanha, 40 os da França, 43 os da Holanda e 47 ao do Reino Unido. A maioria da força de trabalho já estaria reformada quando se atingisse os valores da Espanha!
Percebe-se, assim, que os portugueses mais empreendedores, mais qualificados, mais impacientes, mais salutarmente ambiciosos, prefiram o caminho da emigração.
O nosso atraso não se vence com as políticas habituais que se já provaram ineficientes. É necessário uma grande alteração do paradigma económico do país se queremos almejar a estar no pelotão da frente. Tal só se consegue com uma forte presença e intervenção pública. O modelo chinês, o mais bem-sucedido modelo de desenvolvimento do pós-guerra é bem elucidativo.»
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