19.2.20

Um pontapé no racismo



«O que essas pessoas não percebem é que aquilo que foi extraordinário na noite de dia 16 de fevereiro não foi o facto de um conjunto de grunhos vociferarem uma data de insultos racistas; mas o facto de um jogador não ter aceite a situação como normal. Marega colocou a dignidade acima do silêncio que tem permitido a manutenção do racismo como forma de expressão tolerada nas ruas, televisões e estádios de Portugal. O seu ato mostrou como é intolerável uma situação que, de tão frequente, as pessoas não notavam. Vou reformular: nós brancos raramente notamos o racismo, porque não somos diariamente sujeitos a ele. O ato de Moussa Marega quebrou esse manto da invisibilidade consentida por muitos.

A “tolerância” mascara o conflito social e minimiza a luta na conquista dos próprios direitos. Se disséssemos em 1 de dezembro de 1955 a Rosa Parks, a mulher negra que na cidade de Montgomery se recusou a dar o lugar sentado no autocarro a um branco, como mandavam as regras da segregação, que ela procurava “tolerância”, ter-nos-ia mandado bugiar. O seu gesto, que lhe custou a prisão, provocando um conflito onde só havia sujeição, era a afirmação de um direito, não de tolerância. “Estou cansada de ser tratada como uma pessoa de segunda classe”, disse ela ao condutor.»

Nuno Ramos de Almeida
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