5.7.20

Às cegas


«Tenho poucas certezas sobre o que nos está a acontecer. Só uma se vai instalando: que isto vai durar. Que teremos más notícias durante muito tempo. Podemos começar a disparar uns contra os outros, para ver se as culpas caem no vizinho. Ou podemos começar a discutir a fase seguinte: como vamos lidar com o vírus de forma a não sacrificar o futuro dos nossos filhos, a não destruir a economia e a democracia e a não viver numa sociedade patologicamente deprimida em nome da ilusão da imortalidade? Gostava de ser merecedor da herança dos que estiveram dispostos a morrer em nome da minha liberdade. Isso implica correr riscos para que a vida em comunidade não se torne numa paranoia infernal. Não estou disposto a fechar a juventude da minha filha em casa por dois anos para viver até aos 90. Nem a sacrificar os mais pobres. Nem a retirar a infância às crianças. Nem a destruir o SNS, onde se reduziu o tratamento de AVC em 32%. Nem a transformar a vida em televida, o trabalho em teletrabalho, a universidade em teleuniversidade. O que queria em troca? Que o Estado preparasse o país para reduzir riscos onde eles podem ser reduzidos. Isso não se faz às cegas, com o palpite no lugar da informação.»

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