«Cresci sem futebol. Estádios, só Alvalade para concertos. Dias antes do Euro 2000, o Independente desenhou um figo (a fruta) na capa da revista e eu não percebi a piada. Só que estava a viver na Bélgica e acabei arrastada para ver dois jogos da seleção no estádio. Apanhei-me no corrupio de duas vitórias de Portugal, contra a Inglaterra e a Alemanha.
No estádio, rodeada de emigrantes portugueses que tinham saído de Portugal em circunstâncias muito diferentes das que, no final dos anos 90, me levaram àquelas paragens para estudar. Fora do estádio, rodeada de amigos dos outros países, o que dava um significado diferente a cada jogo. A coisa entranhou-se, talvez pela emoção partilhada com os conterrâneos nas bancadas do estádio, ou com os forasteiros fora dela, talvez pela dualidade entre o meu apego a Portugal e a festa de partilhar competições internacionais com amigos dos outros países.
Infelizmente, onde há exclusão, não pode haver festa. Esta semana a UEFA impediu o presidente da Câmara de Munique de iluminar o estádio com as cores LGBTQ+ durante o jogo Alemanha-Hungria. Contrariamente ao que afirmou a UEFA, não é uma questão de neutralidade política, porque não há contenda política sobre direitos humanos. Há um ano, um jogador não identificado da primeira liga inglesa escreveu uma carta dizendo que é gay, mas nem os seus colegas de equipa conhecem a sua orientação sexual. Por viver escondido, o seu quotidiano é “um pesadelo”. Se é assim em Inglaterra, onde os jogadores da primeira liga usam fitas arco-íris para apoiar as pessoas LGBT+, nos outros países só pode ser pior.
A UEFA, que não teve nada a dizer sobre a legislação homofóbica da Hungria passada no decorrer do Euro, censura ativamente uma mensagem de inclusão. Falando de patrocinadores, em vez de nos entretermos com a novela CR7 vs Coca-Cola, que tal refletir nos milhões pagos pelos patrocinadores de países onde a comunidade LGBTQ+ é abertamente discriminada e perseguida? Talvez seja um ponto de partida.»
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