«O Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação, publicado esta quarta-feira em Diário da República, não se limita a reconhecer o que todos reconhecemos: existem grupos que são alvo de discriminação muito precisa, em cujos meios é importante intervir.
A medida mais prática e simbólica deste plano é a criação de mais de 500 vagas extras no ensino superior, e nos cursos técnicos superiores profissionais, para alunos oriundos de escolas situadas em zonas desfavorecidas que, sem elas, não acederiam a estes níveis de escolaridade.
Ninguém escolhe o local onde nasce. Mas o ecossistema em que crescemos determina-nos. Crescer no bairro da Lapa, em Lisboa, ou no bairro da Jamaica, em Setúbal, não oferece as mesmas condições no ponto de partida e não garante o mesmo êxito no ponto de chegada. Este desequilíbrio não é forçosamente uma fatalidade. Mas é-o na maioria dos casos.
Portugal não é mais nem menos racista do que outros países. Ainda recentemente, Joe Biden admitiu que os EUA têm um problema estrutural chamado racismo — nunca o supremacismo branco teve tanto impulso como na anterior presidência norte-americana. Temos é um trauma colonial para resolver e sempre que nos é possível fugimos a correr do divã do terapeuta.
Acreditamos no nosso próprio discurso sobre a lengalenga do luso-tropicalismo, convencidos de que a nossa colonização até foi benigna, ou, pelo menos, não tão maligna como a das outras potências europeias. A realidade, todavia, não é tão delicodoce.
Alcino Monteiro, espancado por um bando de cabeças rapadas, no Bairro Alto, há 26 anos, ou Bruno Candé, atingido a tiro por um ex-militar, em Moscavide, no ano passado, morreram por causa da cor da sua pele. Não foram crimes comuns. Quem mata é o racismo, não é o anti-racismo.
O que incomoda é quando as vítimas saem da sombra e ganham voz e protagonismo. O primeiro rapper português, General D, não aguentou a pressão de ser o primeiro a expressar o sentimento do que é ser negro e viver em Portugal, depois de lançar PortuKKKal É Um Erro, em 1994, e emigrou. O SOS Racismo, uma organização com reconhecido trabalho cívico, parece ter-se tornado uma questão desde que começou a ser liderada por um negro.
O oposto de não combater o racismo é incentivá-lo. Este plano impede-nos de fingir que não há racismo em Portugal e é um passo para remediar as consequências que sofre quem já nasceu discriminado. Afinal, as quotas não fazem mal a ninguém.»
1 comments:
Naturalmente que o racismo tem de ser implacavelmente combatido em todas as suas manifestações e lugares. Não me parece, no entanto, que a imposição de quotas seja a solução, sobretudo quando aqueles que as defendem aparentemente o fazem sem qualquer base racional.
Procurei transmitir a minha visão do tema num texto que intitulei "Racismo: O Homem Cor-de rosa", que talvez goste de ler, apesar de divergirmos em alguns pontos.
Está disponível em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/06/racismo-o-homem-cor-de-rosa_26.html, que o convido a visitar
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