20.7.21

Políticos grátis

 


«Recentemente, referi aqui a minha consternação por ter constatado que, no decorrer da última campanha para as eleições regionais francesas, a generalidade dos candidatos, em vez de proporem aos eleitores uma escolha entre programas, os aliciavam com as vantagens práticas, verdadeiras promoções de supermercado, de que beneficiariam se lhes dessem os seus votos. Tu me dás uma coisa a mim, eu te dou uma coisa a ti, segundo um refrão napolitano. Pareceu-me uma forma de corrupção em larga escala. É uma nefasta de deseducação cívica, incitando os eleitores a renunciarem às suas convicções em troco de uma possível benesse imediata. Neste contexto, a escolha dos candidatos afigurava-se como um quebra-cabeças para o eleitor. Em todas as listas apareciam ofertas atraentes, mas, como só um voto era possível, tinha de medir acuradamente a que lhe seria mais favorável para a satisfação das suas necessidades.

Agora, considerando os conteúdos da actual guerra de cartazes para as nossas eleições autárquicas, é me penoso verificar que este modo de acção política é contagioso. E não saberei que vacina propor aos eleitores portugueses, tantas são as coisas grátis que lhes são propostas. Não apenas mais isto e mais aquilo, mas tudo declaradamente grátis, sem mais encargos, salvo o de se deixar atrair pela lista mais generosa.

Embora tenha defendido nestas colunas que em Portugal os cargos políticos e os de direcção de serviços públicos, como os municípios ou os museus, por exemplo, deveriam ser remunerados ao mesmo nível dos dirigentes de bancos e empresas privadas, hoje, condicionado e impressionado pela lógica da linguagem dos cartazes, parece-me coerente aconselhar aos candidatos à gestão municipal que se apresentem como candidatos grátis, ou seja sem custos para o erário público. Como ninguém é obrigado a ser candidato, seria um gesto altruísta, que, estou certo, seria devidamente apreciado e granjearia votos. O que assim se economizaria, seria utilizado para custear as promessas feitas durante as campanhas.»

.

0 comments: