28.12.21

A grande sobrestimação da abstenção em Portugal

 


«Os mais recentes censos indicam que a população residente inclui 10.344.802 indivíduos. Se subtrairmos a estes o número de jovens que não têm direito de voto (1.331.396 dos 0 aos 14 anos segundo os censos, e ainda cerca de 300.000 dos 15 aos 18), bem como os estrangeiros que são residentes no território português (554.299) e que também não podem votar, a população que poderá participar nas próximas eleições totaliza 8.159.107 indivíduos. Ora, segundo o recenseamento eleitoral, à data das eleições legislativas de 2019 existiam 9.343.920 eleitores em Portugal. Significa isto que o recenseamento eleitoral contém pelo menos um milhão de eleitores-fantasma. Estes valores são necessariamente aproximados, porque estamos a comparar dados de 2021 com dados de 2019, e os censos ainda não disponibilizaram os dados dos residentes por faixas etárias que permita saber ao certo quantos portugueses com mais de 18 anos existem em Portugal, mas são de qualquer forma muito reveladores do enviesamento dos dados oficiais da abstenção em Portugal. (…)

não se percebe bem a fonte de tal divergência entre as estimativas da população residente com capacidade eleitoral devolvida pelos censos e os números do recenseamento eleitoral. Eleitores-fantasma foi o nome dado aos indivíduos falecidos que não tinham sido eliminados dos cadernos eleitorais. Esse problema foi supostamente ultrapassado aquando da unificação da base de dados do recenseamento eleitoral com o registo nacional de cidadãos em 2008. Mais recentemente, em 2018, outra reforma eleitoral permitiu a inclusão dos cidadãos residentes no estrangeiro no recenseamento eleitoral esperando que estes deixassem de aparecer como votantes nos círculos onde continuavam a figurar como residentes em território nacional. O que os Censos 2021 mostram é que nenhuma dessas reformas impediu que chegássemos a 2021 com cerca de um milhão de eleitores a mais.»

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