«O PS é hoje o partido que mais contribui para a ideia de que não voltará a haver um acordo parlamentar à esquerda depois das eleições de 30 de Janeiro. Independentemente das razões que levaram ao chumbo do Orçamento do Estado em Outubro passado, as posições dos partidos de esquerda são hoje muito distintas a esse respeito.
Nas entrevistas que têm dado, os dirigentes do BE e, em menor medida, do PCP transmitem a sua disponibilidade para encontrar soluções negociadas com o PS. Se o fazem por convicção ou pelo receio de maus resultados nas próximas eleições, é irrelevante para o caso.
Já os principais dirigentes do PS têm feito o contrário desde Outubro: fazem questão de afirmar que deixou de ser possível negociar à esquerda, mostrando-se ao invés esperançosos num qualquer entendimento com o PSD. Dessa forma, são hoje quem mais contribui para a ideia de que não voltará a haver uma solução de governação que se assemelhe ao que tivemos desde 2015 (e que grande parte da população continua a valorizar).
Não sei se os dirigentes do PS insistem em dar por mortos os entendimentos à esquerda por convicção ou por acharem que ficarão assim com os votos dos eleitores descontentes do BE e do PCP. O que as mais recentes sondagens parecem indicar é que os resultados daquela postura não são favoráveis ao PS. É verdade que BE ou PCP (consoante a sondagem) são quem mais perde. Só que o PS não ganha. Pelo contrário, vê o PSD a aproximar-se, dando ainda mais folgo a um partido que parece renascer das cinzas.
Durante seis anos, António Costa assentou a sua popularidade na ideia de uma governação que compatibiliza responsabilidade orçamental e diálogo com as forças de esquerda. Talvez não haja assim tantos eleitores disponíveis para apoiar uma mudança drástica de postura, em que aquele diálogo se torna dispensável e até indesejado. Entre escolher um PS de centro e escolher um PSD de centro, talvez haja muita gente que olha para Rui Rio como o original e para Costa como a cópia forçada. Talvez o fim dos entendimentos à esquerda seja visto – não apenas pelos eleitores de esquerda, mas também por aqueles cujo voto oscila ao centro – como um sinal de incapacidade política de António Costa, não vendo razões de maior para confiar mais no PS do que no PSD. Talvez fosse altura de os dirigentes do PS reconsiderarem a sua estratégia eleitoral e de governação.»
Ricardo Paes Mamede no Facebook (18.12.2021)
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1 comments:
O que será do Costa se não ganhar a maioria absoluta?
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