«Como não percebo muito de finanças, agradeço quando a realidade me apresenta os problemas de forma simples. De acordo com os jornais, Joe Berardo devia cerca de €900 milhões aos bancos. Agora, pede uma indemnização de cerca de €900 milhões aos bancos. Ou seja, trata-se de um “quem diz é quem é” financeiro. Neste caso, quem diz que eu devo 900 é que me deve 900. Manobras financeiras complexas eu não tenho capacidade para compreender; pirraça infantil entendo perfeitamente.
Alguma coisa grave se passou com Joe Berardo, isso é certo. Na comissão parlamentar de inquérito ele era um fanfarrão sem qualquer bem em seu nome que não tinha nada a perder e ria na cara dos deputados. Na acção que esta semana interpôs em tribunal é um desgraçado que perdeu tudo e exige €100 milhões de euros só em compensação por danos morais. Este é o aspecto mais intrigante do processo. Se uma pessoa parte loiça numa loja de porcelana, é natural que tenha de desembolsar uma indemnização elevada. Mas se causa danos numa loja dos 300 talvez faça menos despesa. Ora, exigir €100 milhões por danos morais significa que os bancos foram capazes de fazer estragos na moralidade de Joe Berardo naquele valor. Revela especial perfídia da parte dos bancos. Encontrar a moralidade de Joe Berardo já deve ter sido difícil. Deixá-la 100 milhões de euros pior do que a encontraram requereu, em princípio, um esforço destruidor absolutamente selvagem. Segundo o processo, a conduta dos bancos provocou em Berardo “indescritível sofrimento e profunda depressão, com reflexos de dramático agravamento do seu processo de envelhecimento físico e mental”. Ou seja, os bancos facilitaram-lhe o crédito para lhe dificultar a vida. Não há dúvida de que estas instituições financeiras têm um plano adaptado a cada cliente. Em geral, é quando nos dificultam o crédito que nos transtornam. Com Berardo, optaram pela estratégia inversa: beneficiaram-no para o prejudicar. Pessoalmente, fico a torcer para que os bancos sejam condenados a pagar a Berardo, se não a indemnização completa, ao menos a compensação por danos morais. €100 milhões é uma quantia que permitirá a Berardo reconstruir algum do seu edifício moral. Sugiro, por exemplo, investir num pouco de vergonha.»
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